Embora a quimioterapia seja frequentemente administrada a pacientes portadores de obstrução intestinal maligna (do inglês, malignant bowel obstruction - MBO), os riscos e benefícios desse tratamento são pouco conhecidos. Agora, estudo publicado no BMJ Supportive & Palliative Care avaliou os desfechos de pacientes que receberam quimioterapia sistêmica como parte do tratamento de um quadro de MBO. O oncologista Rafael Caparica (foto), fellow do Institut Jules Bordet, na Bélgica, é o primeiro autor do trabalho, previamente selecionado para apresentação em pôster no congresso da ESMO 2020.
O estudo de coorte retrospectivo se baseou em dados de pacientes hospitalizados devido a obstrução intestinal maligna no Instituto do Câncer do Estado de São Paulo (ICESP) entre 2008 e 2020. Os pacientes elegíveis não eram candidatos à cirurgia devido à presença de carcinomatose peritoneal difusa e receberam quimioterapia sistêmica direcionada para a neoplasia primária causadora da MBO, além de cuidados paliativos de suporte de acordo com os protocolos da Instituição.
O objetivo primário do estudo foi avaliar a sobrevida global após a quimioterapia; os objetivos secundários foram a sobrevida após o diagnóstico de MBO e as taxas de recuperação da função intestinal, alta hospitalar e de toxicidades grau ≥3 após a quimioterapia.
Resultados
Um total de 167 pacientes foram incluídos: a idade média foi de 55 anos (18–81), 91% tinham performance status ECOG ≥2, 75,5% tinham neoplasias gastrointestinais e 70% eram virgens de tratamento. A sobrevida global mediana após a quimioterapia foi de 4,4 semanas (95% CI 3,4 a 5,5) na população geral, resultado comparável aqueles observados em séries de pacientes com MBO tratados com cuidados paliativos exclusivos.
Nenhuma diferença em termos de sobrevida global foi observada de acordo com a linha de tratamento (p = 0,24) ou tumor primário (p = 0,13). A recuperação da função intestinal ocorreu em 87 pacientes (52%), dos quais 21 (24,1%) apresentaram reobstrução. A alta hospitalar foi possível em 74 pacientes (44,3%). Eventos adversos de grau ≥3 ocorreram em 26,9% dos pacientes, e um total de 12 mortes (7%) atribuídas a toxicidades foram observadas após a quimioterapia.
“Nossos resultados confirmam que a obstrução intestinal maligna está associada a um prognóstico extremamente desfavorável”, observaram os autores. “A administração de quimioterapia gerou um risco significativo de toxicidades graves, enquanto que nenhum benefício aparente em termos de sobrevida foi observado nesta população composta majoritariamente por pacientes virgens de tratamento”, concluíram.
Referência: Caparica R, Amorim L, Amaral P, et al - Malignant bowel obstruction: effectiveness and safety of systemic chemotherapy - BMJ Supportive & Palliative Care Published Online First: 17 December 2020. doi: 10.1136/bmjspcare-2020-002656