Onconews - Oferta de médicos no Brasil afeta resultados do câncer de mama

A crescente tendência de câncer de mama em mulheres e homens ressalta a necessidade de mais monitoramento, alerta estudo de Jean Henri Maselli-Schoueri (foto) e colegas, publicado na BMC Cancer. O trabalho mostra que a menor mortalidade por câncer de mama feminino foi positivamente correlacionada com maior disponibilidade de médicos e cuidados especializados no sistema público de saúde, destacando o papel crítico da capacidade da força de trabalho da saúde e a alocação estratégica de pessoal especializado na melhoria dos resultados dos pacientes.

O câncer de mama feminino (CMF) é um problema de saúde pública bem conhecido em todo o mundo. No entanto, o câncer de mama masculino (CMM), embora raro, pode ser negligenciado pelas autoridades de saúde pública e pelos médicos. Ambas as doenças apresentam semelhanças e entender seu comportamento ao longo do tempo é crucial para compreender seu impacto anual em muitos cidadãos, argumentam os autores. Além disso, é importante analisar se o pessoal médico está bem alocado e como isso influencia os resultados da doença no sistema público de saúde.

Neste estudo ecológico, os pesquisadores utilizaram dados secundários de 2008 a 2020 para explorar a relação entre o número de médicos por 100.000 habitantes e a mortalidade por câncer de mama feminino e  câncer de mama masculino no Brasil. Todos os dados foram obtidos do sistema público de saúde. As taxas de mortalidade foram analisadas por idade e padronizadas de acordo com os números populacionais da Organização Mundial da Saúde. O número de médicos foi calculado por 100.000 habitantes. Análise de regressão linear foi realizada usando uma abordagem de seleção gradual.

Os resultados relatados na BMC Cancer mostram que entre 2008 e 2020 o Brasil registrou 195.969 mortes relacionadas ao câncer de mama entre adultos, incluindo 2.220 vítimas do sexo masculino. A maioria dessas mortes ocorreu na região Sudeste entre pacientes com mais de 50 anos. Embora tanto o CMM quanto o CMF tenham demonstrado tendências crescentes ao longo do período do estudo, nenhuma correlação foi encontrada entre o número de médicos e as taxas de mortalidade para câncer de mama masculino. Por outro lado, um aumento de médicos de atenção primária ao longo dos anos foi positivamente correlacionado com as taxas de mortalidade para câncer de mama feminino (p < 0,05). Além disso, os autores descrevem que o número de médicos no sistema público de saúde (β = -0,163; IC de 95%: -0,240 a -0,085; p = 0,002), oncologistas (β = -0,507; IC de 95%: -0,881 a -0,134; p = 0,015) e radioterapeutas (β = -6,402; IC de 95%: -12,357 a -0,446; p = 0,039) mostrou associação inversa com a mortalidade por câncer de mama feminino.

“Esses achados ressaltam o papel crítico que a capacidade da força de trabalho médica e o atendimento especializado desempenham na melhoria dos resultados dos pacientes, enfatizando a necessidade de alocação estratégica de recursos dentro do sistema público de saúde”, analisam os autores. Esses insights devem informar futuras políticas de saúde e apoiar esforços direcionados para reduzir as taxas de mortalidade por câncer de mama entre homens e mulheres.

Além de Jean Henri Maselli-Schoueri, do Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados, do Centro Universitário Saúde ABC, o trabalho tem a participação de Luís Eduardo Werneck de Carvalho (Oncológica do Brasil Ensino e Pesquisa. Belém, Pará),Claudia Vaz de Melo Sette (Disciplina de Oncologia e Hematologia do Centro Universitário da Faculdade de Medicina do ABC), Luiz Carlos de Abreu (Universidade de Limerick, Irlanda), Fernando Luiz Affonso Fonseca (FMABC), Fernando Adami (Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados, do Centro Universitário Saúde ABC) e Laercio da Silva Paiva (Laboratório de Epidemiologia e Análise de Dados do Centro Universitário Saúde ABC).

A íntegra do estudo está disponível em acesso aberto.

Referência:

Maselli-Schoueri, J.H., De Carvalho, L.E.W., De Melo Sette, C.V. et al. How are we allocating physicians to deal with breast cancer in men and women in Brazil?. BMC Cancer 25, 392 (2025). https://doi.org/10.1186/s12885-025-13742-8