A curva ascendente mostra que o ritmo da pandemia continua a pressionar o sistema de saúde. Mas mesmo diante da COVID-19, a oncologia brasileira decidiu manter o ritmo da assistência. “Temos seguido a orientação do Comitê Estadual de Oncologia de São Paulo. A orientação inicial foi no sentido de criar corredores livres de COVID-19 para tratar esses pacientes de câncer em segurança”, explica a oncologista Daniela Ramone, do Hospital de Amor, em Barretos.
Considerada referência no tratamento do câncer, a instituição no interior paulista criou uma unidade exclusiva para tratamento da COVID-19 e passou a realizar uma triagem respiratória fora da unidade oncológica.” Aqui dentro de um centro de câncer não entra ninguém com sintoma respiratório. Só entra no hospital o funcionário e o paciente. Nem acompanhante temos recomendado, exceto em casos realmente necessários”, conta Daniela. “Com isso tentamos proteger o ambiente oncológico para o tratamento, mas é uma recomendação que vale agora, na semana que vem isso pode mudar. É um cenário de guerra, com estratégias que podem mudar, dependendo da evolução”, completa a oncologista de Barretos.
O mastologista Ruffo de Freitas, coordenador do Programa de Mastologia da Universidade Federal de Goiás, é nome de referência na especialidade e reforça a importância de áreas “COVID free”. “Essa tem sido a tônica, reservar áreas exclusivas para o atendimento dos casos de COVID-19 e outras áreas livres, que temos chamado de COVID free”, prossegue Ruffo, também titular do Hospital Araújo Jorge, da Associação de Combate Ao Câncer de Goiás. “Com o afastamento social, aqueles pacientes que estavam em tratamento continuaram recebendo quimioterapia, seja na clínica privada, em hospital filantrópico e na rede 100% SUS, como é no nosso caso o hospital universitário, controlado pela regulação”, esclarece.
Em termos de cirurgia, a orientação foi suspender e reprogramar os procedimentos não oncológicos, incluindo reconstrução mamária tardia, mas manter a cirurgia para pacientes que precisam ser operadas de câncer de mama. “Aqui, o presidente da Associação de Combate ao Câncer de Goiás, que é a maior instituição de câncer de todo o Centro-Oeste, ele foi a mídia dizer que paciente de câncer não tem que ficar em casa; paciente de câncer tem que fazer seu tratamento. Então, nós continuamos com tudo”, diz Ruffo.
Pelo menos duas grandes sociedades médicas, a SBOC e a SBCO reforçam a proposta de manter o tratamento de pacientes de câncer em áreas COVID-free. “É inviável você sentar e ficar esperando três meses até essa pandemia passar. A gente acaba condenando o paciente potencialmente curável, porque o risco é maior de morrer de câncer do que de ser contaminado”, avalia Daniela Ramone.