Pesquisa da ESMO publicada no Annals of Oncology mostra que 71% dos jovens oncologistas europeus (≤ 40 anos) apresentam evidências de burnout, com sérias consequências na qualidade do atendimento ao paciente, na satisfação profissional e na vida pessoal. Esta é a maior pesquisa de burnout já realizada na Europa entre os oncologistas. A psico-oncologista Vera Bifulco, do Instituto Paulista de Cancerologia, comenta para o Onconews.
O inquérito utilizou o inventário validado Maslach Burnout Inventory (MBI) e questões adicionais, explorando aspectos profissionais e estilo de vida. Foram realizadas análises estatísticas para identificar fatores associados ao burnout.
O estudo considerou 737 inquéritos, de 41 países europeus. Os países foram divididos em 6 regiões. Do total avaliado, 595 inquéritos foram de jovens oncologistas, 52% de médicos estagiários, 62% mulheres. O resultado da análise mostra que 71% dos jovens oncologistas apresentaram evidências de burnout (subdomínios do burnout: despersonalização: 50%, exaustão emocional: 45%, baixa realização profissional: 35%). 22% solicitaram apoio para burnout durante a residência e 74% relataram não ter acesso a serviços de apoio no ambiente hospitalar.
As taxas de burnout tiveram variações significativas em toda a Europa (p <0,0001). O burnout foi mais elevado na Europa Central (84%) e mais baixo na Europa do Norte (52%). Os escores de despersonalização foram maiores nos homens comparados com as mulheres (60% vs 45% p = 0,0001) e a baixa realização foi maior entre os 26-30 anos (p <0,01).
Nas análises de regressão linear multivariada, a região europeia, o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal, o acesso a serviços de apoio, a vida isolada e o tempo de férias inadequado permaneceram como fatores independentes de burnout (p <0,05).
Esta é a maior pesquisa de burnout já realizada na Europa entre jovens oncologistas. A conclusão dos autores indica a importância do adequado equilíbrio entre trabalho e vida privada, acesso a serviços de apoio e tempo de férias na redução dos níveis de burnout. Sensibilização, apoio e investigação intervencionista são necessários.
A psico-oncologista Vera Bifulco, do Instituto Paulista de Cancerologia, reafirma a importância dos Cuidados Paliativos durante todo o tratamento oncológico e lembra que o burnout na equipe de saúde acontece com mais frequência diante do agravamento da doença e da proximidade da morte.
“É nesse contexto que o oncologista se confronta com o desafio de lidar com o sofrimento humano e com a sua impotência diante da impossibilidade de oferecer a cura", observa a especialista. “E o que fazer quando não posso mais oferecer a cura? Não desistir de seu paciente, não descartar a esperança, aliás, a esperança é a única que não morre. Mitigar o sofrimento do paciente é estar ao seu lado até o fim. Promover o que chamamos de Cuidados Paliativos, oferecidos aos pacientes e seus familiares durante todo o percurso do tratamento oncológico, do diagnóstico aos cuidados no fim da vida. Quando não posso mais oferecer a cura é quando muito se pode oferecer em termos de cuidados”, acrescenta.
A especialista ressalta que as equipes de Cuidados Paliativos, via de regra, não apresentam bornout porque aprendem que a morte não significa derrota nem uma doença que deve ser combatida custe o que custar. "É o fechamento final de um ciclo de vida que deve ser cuidado com excelência para se permitir uma morte digna e sem sofrimento", diz.
Referência: Professional Burnout in European Young Oncologists: Results of The European Society For Medical Oncology (ESMO) Young Oncologists Committee Burnout Survey - Ann Oncol mdx196. - DOI: https://doi.org/10.1093/annonc/mdx196
Published: 25 April 2017