O oncologista Allan Pereira (foto), médico do Hospital Sírio Libanês e chefe da oncologia do Hospital de Base, em Brasília, é primeiro autor de estudo retrospectivo que avaliou dados moleculares e patológicos de pacientes brasileiros com câncer colorretal metastático, estratificando os achados em diferentes faixas etárias a partir da idade recomendada para o rastreamento da doença. Os resultados foram publicados no periódico Clinical Colorectal Cancer.
“Os protocolos de rastreamento do câncer colorretal são amplamente recomendados e eficazes na redução da mortalidade. No entanto, populações de diferentes grupos etários podem abrigar perfis patológicos e moleculares distintos que também podem ser influenciados pela triagem e ressecção de pólipos, especialmente em idades mais avançadas”, destaca a publicação.
Nesse estudo, os pesquisadores analisaram retrospectivamente os tumores de pacientes com câncer colorretal em estágio IV de um laboratório central de patologia referência para perfis mutacionais no país. Os pacientes foram classificados nas seguintes faixas etárias: idade pré-triagem (PrSA; <45 anos), idade da triagem (SA; 45-75 anos) e idade pós-triagem (PoSA;> 75 anos). Cada tumor foi analisado centralmente pelo patologista. Os grupos foram comparados em relação às características clínico-patológicas e à presença de mutações RAS e BRAF.
Resultados
Foram incluídos 1635 pacientes (215 PrSA, 1213 AS e 207 PoSA). Não houve diferença entre os grupos em relação à localização do tumor (esquerda/direita; P = .65) e mutações KRAS (P = .57). Doença em estágio IV no momento do diagnóstico (P = .04), a presença de um componente de célula em anel de sinete (P <.001) e tumores pouco diferenciados (P = .02) foram mais comuns em pacientes jovens, enquanto mutações BRAF e NRAS foram significativamente mais comuns entre os pacientes em idade pós-triagem (P = 0,002 e 0,03, respectivamente).
Quando estratificados por década de idade, as mutações KRAS parecem ter uma frequência estável entre todas as faixas etárias, enquanto a taxa de mutação BRAF aumenta conforme a idade avança.
“As mutações BRAF são mais frequentes entre os pacientes com idade pós-triagem (PoSA) e esta parece ser uma tendência contínua. Além disso, pacientes com idades pré-triagem e pós triagem parecem apresentar um perfil distinto daquele observado em pacientes na faixa etária com recomendação para triagem, incluindo diferenças nos aspectos moleculares e patológicos. Esses achados podem impactar a frequência dos testes de rastreamento entre diferentes grupos de idade”, concluem os autores.
Referência: Differences in Pathology and Mutation Status Among Colorectal Cancer Patients Younger Than, Older Than, and of Screening Age – Allan Lima Pereira et al - DOI:https://doi.org/10.1016/j.clcc.2020.06.004