Onconews - Perfil genômico melhora classificação diagnóstica e resultados clínicos na neuro-oncologia

camilla yamada lacog BXEstudos de perfis genômicos de gliomas difusos levaram a novos esquemas de classificação que predizem melhor os resultados dos pacientes em comparação com a histomorfologia convencional. Agora, Zhang et al. mostram em artigo na Neuro-Oncology como o perfil genômico tem impacto clínico em pacientes com glioma astrocítico difuso do tipo IDH selvagem sem características histológicas de alto grau. A oncologista Camilla Yamada (foto), da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, comenta os resultados.

Para determinar o impacto clínico do perfil genômico, os pesquisadores analisaram 38 pacientes adultos inscritos consecutivamente, todos com glioma astrocítico difuso com IDH do tipo selvagem, sem necrose ou proliferação microvascular no exame histológico. Esses pacientes foram analisados genomicamente em uma base prospectiva, com o objetivo de refinar a avaliação diagnóstica integrando também as características moleculares, de acordo com os critérios do consórcio cIMPACT-NOW.

Os autores descrevem que o diagnóstico baseado na integração de características radiológicas, histológicas e genômicas resultou em dois cenários clínicos divergentes, designados na análise de glioblastoma ‘precoce/em evolução’ e ‘subamostrado’, tipo IDH selvagem. A identificação prospectiva guiada por genômica permitiu refinar o diagnóstico, identificando glioblastoma com IDH tipo selvagem precoce/em evolução e subamostrado, o que resultou em um manejo mais agressivo do paciente, com melhores resultados clínicos na comparação com uma coorte de controle histórico, tratada com padrão de cuidados com base apenas no diagnóstico histomorfológico.

“Esses resultados apoiam o uso rotineiro de perfis genômicos e/ou epigenômicos para classificar com precisão as neoplasias gliais, pois esses ensaios não apenas melhoram a classificação diagnóstica, mas também levam a um manejo mais apropriado do paciente", concluem os autores.

A oncologista Camilla Yamada, da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo (foto) destaca que a classificação de 2016 (2) e as subsequentes publicações que culminaram na recente atualização na classificação dos tumores de sistema nervoso central em 2021 (3) pela Organização Mundial de Saúde (OMS) vem demonstrando a necessidade e a importância dos testes genômicos na definição diagnóstica. "Neste trabalho, foi demonstrado que o painel de sequenciamento pode identificar características moleculares do GBM IDH selvagem (de acordo com cIMPACT 3 e WHO 2021) em tumores de menor grau (graus 2 e 3) histológico ou seja, sem necrose ou proliferação microvascular, impactando no prognóstico e na definição terapêutica quando realizado mais precocemente. Comparado a dados retrospectivos, quando presente a assinatura molecular do GBM, esses pacientes foram tratados de forma mais agressiva, recebendo radioterapia e quimioterapia imediatamente após a abordagem cirúrgica, o que impactou positivamente com incremento em sobrevida global na comparação com dados históricos", analisa Camilla. Em relação aos grupos glioblastoma ‘precoce/em evolução’ e ‘subamostrado’ tipo IDH selvagem, não foram observadas diferenças significativas entre os dois grupos, necessitando de estudos futuros em relação ao impacto clínico desses dois cenários.

"Não há duvidas de que esses testes genômicos agregam muito à prática clinica, não somente na definição diagnóstica quanto prognóstica e terapeuticamente, porém, no Brasil temos a dificuldade de acesso a esses testes, visto que não são amplamente disponíveis devido ao alto custo, nem nos serviços públicos nem no privado", alerta a especialista. 

Referências: 

1 - Yalan Zhang, Calixto-Hope G Lucas, Jacob S Young, Ramin A Morshed, Lucie McCoy, Nancy Ann Oberheim Bush, Jennie W Taylor, Mariza Daras, Nicholas A Butowski, Javier E Villanueva-Meyer, Soonmee Cha, Margaret Wrensch, John K Wiencke, Julieann C Lee, Melike Pekmezci, Joanna J Phillips, Arie Perry, Andrew W Bollen, Manish K Aghi, Philip Theodosopoulos, Edward F Chang, Shawn L Hervey-Jumper, Mitchel S Berger, Jennifer L Clarke, Susan M Chang, Annette M Molinaro, David A Solomon, Prospective genomically-guided identification of ‘early/evolving’ and ‘undersampled’ IDH-wildtype glioblastoma leads to improved clinical outcomes, Neuro-Oncology, 2022;, noac089, https://doi.org/10.1093/neuonc/noac089

2 - Louis DN OH, Wiestler OD, Cavenee WK. WHO Classification of Tumours of the Central Nervous System2016.

3 - Louis DN, Perry A, Wesseling P, Brat DJ, Cree IA, Figarella-Branger D, et al. The 2021 WHO Classification of Tumors of the Central Nervous System: a summary. Neuro Oncol. 2021;23(8):1231-51.