Estudo de pesquisadores do Dana-Farber Cancer Institute, publicado na Nature Communications, abre caminho para refinar a seleção de pacientes que podem se beneficiar da combinação de inibidor de PARP e inibidor de checkpoint imune no câncer de ovário avançado. Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG), analisa os resultados.
O ensaio clínico TOPACIO / Keynote-162 mostrou que a taxa de resposta (ORR) com a combinação de pembrolizumabe e niraparibe foi de 18% em pacientes com câncer de ovário resistente à platina e a taxa de controle da doença chegou a 65%. Agora, os dados reportados na Nature Communications mostram que a presença de uma assinatura mutacional específica (mutational signature 3 – Sig3) e de um determinado padrão imune são marcadores que podem indicar se os pacientes responderão à terapia combinada.
“Usando uma ferramenta computacional recentemente desenvolvida, chamada SigMA (Signature Multivariate Analysis), capaz de determinar assinaturas mutacionais mesmo quando a carga mutacional do tumor é baixa, fomos capazes de testar a presença de uma assinatura mutacional específica”, explicam os autores.
Pacientes cujas células tumorais carregavam a “assinatura mutacional 3" (um padrão de mutações genéticas associado à incapacidade de reparar certos tipos de danos no DNA) ou "pontuação imunológica positiva" (uma medida da atividade de sinalização entre as células tumorais e o sistema imunológico) aparentemente derivaram um maior benefício da combinação pembrolizumabe-niraparibe.
"Levando esses fatores em consideração, os pesquisadores que lideram os ensaios dessa combinação podem selecionar pacientes com câncer de ovário avançado mais propensos a responder a essa combinação", diz Panagiotis Konstantinopoulos, diretor do departamento de oncoginecologia e da área de pesquisa translacional do Dana-Farber, co-autor senior do estudo, ao lado de Alan D. D'Andrea, também do Dana-Farber.
“O cenário de resistência à platina segue sendo o maior desafio terapêutico no câncer de ovário e isto não foi significativamente impactado com o uso de iPARP isoladamente, sendo a sensibilidade à platina inclusive um marcador de melhor resposta a esta classe de medicamentos. A possibilidade de seleção de respondedores através de biomarcadores preditores potencializa as chances de benefício com a combinação, merecendo exploração em um grupo maior de pacientes”, avalia Angélica.
Referência: Färkkilä, A., Gulhan, D.C., Casado, J. et al. Immunogenomic profiling determines responses to combined PARP and PD-1 inhibition in ovarian cancer. Nat Commun 11, 1459 (2020). https://doi.org/10.1038/s41467-020-15315-8