Estudo retrospectivo avaliou a experiência no tratamento da dor em pacientes com câncer de mama atendidos no Instituto Nacional do Câncer (INCA) após o diagnóstico de metástase óssea. O trabalho teve como primeira autora a farmacêutica especialista em oncologia Thamyrys Bessa Silva (foto). Os resultados foram publicados no The Breast Journal.
Os pesquisadores analisaram os prontuários de todos os pacientes submetidos a cintilografia óssea no Serviço de Medicina Nuclear do INCA em 2016 e 2017. O diagnóstico final de metástase óssea foi determinado pela combinação dos resultados da cintilografia óssea de corpo inteiro, outros exames de imagem e acompanhamento clínico. Os pacientes com câncer de mama positivos para metástases ósseas tiveram as variáveis sociodemográficas e prescrições de analgésicos no período de 90 dias antes a 90 dias após o diagnóstico das metástases. O período de 90 dias foi determinado pois é o tempo máximo de validade de uma receita médica no instituto, após o qual nova consulta médica deve ser realizada. Os analgésicos prescritos foram então classificados e categorizados de acordo com a Escada Analgésica da OMS.
Quatro mil setecentos e trinta e seis cintilografias ósseas foram realizadas no período, e 785 pacientes (61%) elegíveis para a análise. A maioria era do sexo feminino (99,4%), com média de idade de 59,5 anos. Dez por cento dos pacientes morreram no prazo de 90 dias a partir da WB-BS e 19,5% foram admitidos para tratamento do câncer até 90 dias antes da WB-BS, sugerindo que a doença estava em estágio avançado no momento diagnóstico. Além disso, metástases múltiplas foram mais comuns (86,6%) do que uma única metástase. Os pacientes com prescrição para controle da dor eram 81,4% (n = 639).
Os pacientes com prescrição médica foram divididos em três grupos: (a) pacientes com prescrição analgésica até 90 dias antes e nenhuma prescrição no período de 90 dias após o diagnóstico de metástase óssea (n = 82, 10,4%); (b) pacientes com prescrição analgésica até 90 dias após e nenhuma prescrição antes do diagnóstico de metástase óssea (n = 125, 15,9%); e (c) pacientes com prescrição analgésica 90 dias antes e até 90 dias após o diagnóstico de metástase óssea (n = 432, 54,3%). Maior número de prescrições de analgésicos não opioides e adjuvantes foi encontrado nos três grupos.
A análise do grupo c foi realizada para avaliar as alterações na Escada Analgésica após o diagnóstico de metástase óssea. A maioria dos analgésicos prescritos antes da metástase óssea continuou a ser prescrita após o diagnóstico; no entanto, 37,6% dos pacientes no degrau 1 e 23,7% dos pacientes com analgésicos do degrau 2 antes da metástase óssea alteraram o degrau após o diagnóstico. Pacientes com os medicamentos do degrau 3 apresentaram menos alterações (p <0,0001). A prescrição de analgésicos mudou após o diagnóstico de metástase óssea em 29,8% dos pacientes, sendo que 125 (15,9%) receberam prescrição e 109 (13,9%) alteraram o degrau da Escada Analgésica (p <0,0001).
“Os resultados desta pesquisa são um retrato da experiência no tratamento da dor após o diagnóstico de BM em pacientes com BC em uma instituição de referência no Brasil. Entre os pontos fortes do trabalho estão o tamanho da amostra, a inclusão de pacientes diagnosticados e tratados na mesma instituição e o uso de imagens adicionais para confirmar as metástases ósseas”, afirmam os autores. “As limitações incluem a natureza retrospectiva e a falta de dados sobre o nível de dor, localização e comorbidades. Um estudo prospectivo para avaliar a intensidade da dor e prescrições de analgésicos para pacientes com câncer de mama metastático está em desenvolvimento”, acrescentam.
“O estudo ilustra que a cintilografia óssea pode contribuir não apenas para o estadiamento do câncer de mama, mas também para a tradução de sintomas relatados pelo paciente, fundamentando as intervenções farmacológicas para controle da dor e, consequentemente, tornando-se parte importante do processo de cuidado”, conclui a farmacêutica Priscilla Brunelli Pujatti, que orientou o trabalho.
Referência: Pain-relievers prescription after bone metastasis detection in breast cancer patients: A Brazilian reference cancer hospital experience - Thamyrys Bessa Silva; Marcella Araugio Soares Cardoso; Jayda Eiras Ramim; Anke Bergmann; Priscilla Brunelli Pujatti - First published:18 February 2020 - https://doi.org/10.1111/tbj.13782