Onconews - Prevenção é o foco no Dia Mundial do Câncer

wcd_logo_4c_NET_OK.jpgA mídia internacional repercutiu as críticas ao estudo do Johns Hopkins publicado recentemente na revista Science. A pesquisa despertou polêmica ao atribuir ao azar dois terços das mutações associadas ao câncer, superando os fatores ambientais e genéticos combinados. No Dia Mundial do Câncer, o oncologista Evanius Wiermann, presidente da Sociedade Brasileira de Oncologia Clínica (SBOC), comenta a pesquisa e deixa um recado à comunidade médica brasileira.

“Entre os tipos de câncer que mais matam, estão o de pele não melanoma, mama, estômago, pulmão, próstata e o de colo do útero. Destes tumores, alguns deles apresentam seguramente associação de risco com hábitos pouco saudáveis", explica.

Em um comunicado para a imprensa, a Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer afirmou que "discorda fortemente" do relatório, e ressaltou que "quase metade de todos os casos de câncer pode ser prevenida". Não à toa, o mote da campanha da União Internacional para o Controle do Câncer (UICC), que criou o Dia Mundial do Câncer, é "Está ao nosso alcance enfrentar o desafio", indicando que a prevenção é um dos pilares para o combate à doença. A campanha mundial tem quatro áreas-chave: adotar hábitos de vida saudáveis, qualidade de vida, detecção precoce e acesso universal ao tratamento.

A UICC afirma que para os governos, investir na prevenção do câncer é mais barato do que tratar suas consequências. Estima-se que o custo relacionado ao câncer chegue a US$ 458 bilhões por ano até 2030 em todo mundo, e as medidas populacionais para reduzir os fatores de risco comuns às doenças não transmissíveis (DNT), incluindo o câncer, custariam apenas US$ 2 bilhões por ano para todos os países de baixa e média renda. 

O estudo

Os pesquisadores do Johns Hopkins Bert Vogelstein e Cristian Tomasetti criaram uma fórmula matemática para explicar a gênese do câncer. Eles analisaram o número de células em um órgão, identificaram qual a porcentagem de células-tronco de longa duração, e determinaram quantas vezes essas células-tronco se dividem. Com todas as divisões, há um risco de uma mutação que causa câncer em uma nova célula. Assim, fundamentaram que os tecidos que hospedam o maior número de divisões são os mais vulneráveis ao câncer. Ao analisar e comparar os números com estatísticas reaisr, os autores concluíram que a quantidade de variação no risco de câncer pode ser explicada pelo número de divisões de células tronco, que é 0,8042, ou, cerca de 65%.

Os autores estimaram o número total de divisões de células-tronco ao longo da vida com o risco de câncer em 31 órgãos diferentes. Vale ressaltar que o estudo não incluiu todos os tipos de câncer, inclusive dois dos mais comuns, de próstata e mama, porque os autores não foram capazes de definir a frequência das divisões de células-tronco nesses tecidos.

Eles classificaram os tipos de câncer estudados em dois grupos; 22 deles poderiam ser em grande parte explicada pelo fator "má sorte" de mutações aleatórias no DNA durante a divisão celular. Os outros nove tipos de câncer tinham incidência maior do que o previsto pelo fator sorte e foram presumivelmente causados pela combinação com fatores ambientais ou hereditários. "Descobrimos que os tipos de câncer com maior influência de fatores ambientais eram os esperados, como câncer de pulmão, ligado ao tabagismo; câncer de pele, associado à exposição ao sol; e formas de câncer associadas com síndromes hereditárias", diz Vogelstein.
 
Para o especialista brasileiro, uma mensagem importante do estudo é que o câncer muitas vezes não pode ser evitado, e mais recursos devem ser canalizados para diagnosticá-lo em seu início. "Isso não exclui a capacidade de prevenir e tratar o câncer, nem a necessidade de compreender melhor suas causas”, diz.
 
Evanius reafirma que aprevenção é a melhor maneira de se evitar o desenvolvimento da doença. “Hábitos saudáveis, atividades físicas, comer fibras, frutas e vegetais, reduzir o consumo de carne vermelha, não fumar e reduzir a ingestão de álcool são o primeiro passo para afastar o câncer", finaliza. 

Diagnóstico precoce

Além da adoção de hábitos saudáveis, a detecção precoce da doença é cada vez mais importante para a diminuição da mortalidade. Segundo o médico patologista Venâncio Avancini Alves, da Sociedade Brasileira de Patologia (SBP), descobrir o tumor no estágio inicial é uma das principais estratégias para o melhor prognóstico. “Os avanços das novas técnicas e o acompanhamento precoce do médico também ajudam na indicação do tratamento mais adequado, pois, cada vez mais, os resultados de exames são essenciais para que o oncologista selecione a medicação mais eficiente para cada caso", diz.

O especialista propõe um trabalho integrado dos médicos radiologistas e patologistas como um caminho para diagnósticos e tratamentos cada vez mais promissores, com aumento da precisão e ganhos em termos de custo-benefício. “"Esse conjunto de procedimentos diagnósticos integrados tem aproximado as duas especialidades médicas, sendo um avanço recente a proposta de laudos conjuntos. A resolução cada vez maior das imagens obtidas por ultrassonografia, tomografia e ressonância magnética torna possível a seleção de áreas com características de tumores que permitem a introdução de agulhas, fornecendo material celular ou tecidual para biópsias em que patologista pode firmar o diagnóstico de cada tipo de doença", ressalta.