Estudo publicado na Cancer Epidemiology Biomarkers and Prevention sugere que terapias-alvo endócrinas e uma avaliação de biomarcadores nas vias de sinalização de hormônios e insulina podem ser úteis na prevenção e no tratamento da recorrência do câncer de endométrio. Quem comenta os resultados do trabalho é a oncologista Angélica Nogueira-Rodrigues (foto), presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Ginecológicos (EVA/GBTG).
A identificação de biomarcadores associados a risco, prognóstico e com potencial valor preditivo de resposta a tratamentos é fundamental neste contexto de aumento progressivo do câncer de endométrio no mundo. O câncer de endométrio já é o câncer ginecológico mais comum em países desenvolvidos e é um dos poucos cânceres cuja incidência e mortalidade estão aumentando nestes locais. No Brasil, alinhado com a epidemia de obesidade e envelhecimento populacional, espera-se também aumento progressivo da doença no país”, observa Angélica.
A influência do hormônio sexual e da sinalização do eixo insulina/fator de crescimento semelhante à insulina (IGF) na recorrência do câncer endometrial é desconhecida. Nesse estudo, os pesquisadores avaliaram essas vias em uma coorte prospectiva de pacientes com adenocarcinoma endometrial do Gynecologic Oncology Group (GOG) 0210, um estudo cooperativo multi-institucional que acompanhou prospectivamente mulheres por até 10 anos após seu tratamento cirúrgico inicial para câncer endometrial.
Foram incluídos pacientes com adenocarcinoma endometrioide estágios II-IV (N = 816). As amostras pré-tratamento foram testadas quanto à expressão de mRNA tumoral e proteína de IGF1, IGF2, proteínas de ligação de IGF (IGFBP)-1 e -3, receptores de insulina (IR) e IGF-I (IGF1R), IR/IGF1R fosforilado (pIGF1R/pIR) e receptores de estrogênio (ER) e progesterona (PR) utilizando qPCR e imunohistoquímica. As concentrações séricas de insulina, IGF-I, IGFBP-3, estradiol, estrona e globulina de ligação de hormônio sexual foram medidas. Hazard ratios (HR) e intervalos de confiança de 95% CI para sobrevida livre de progressão foram calculados a partir de modelos de Cox ajustados para idade, estágio e grau.
Os resultados do estudo mostraram uma recorrência em 280 pacientes (34%) durante uma mediana de 4,6 anos de seguimento. Positividade do receptor de estrogênio (HR 0,67, 95% CI 0,47-0,95), positividade de IR (HR 0,53, 95% CI 0,29-0,98) e IGF-I circulante (quartil mais alto versus mais baixo, HR 0,66, 95% CI 0,47-0,92) foram inversamente associados ao risco de recorrência. O estradiol circulante (tercil mais alto versus mais baixo, HR 1,55, 95% CI 1,02-2,36) e positividade para pIGF1R/pIR (HR 1,40, 95% CI 1,02-1,92) foram associados com risco de recorrência aumentado.
“Os resultados sugerem que estradiol circulante e tecido IGR1R/IR fosforilado (ativado) foram independentemente associados com maior risco de recorrência em pacientes com câncer de endométrio”, concluem os autores.
Um estudo multicêntrico, atualmente aberto e inscrevendo pacientes nos Estados Unidos, vai avaliar a eficácia da combinação de terapias endócrinas para tratar a recorrência do câncer endometrial. “A terapia combina dois medicamentos orais para bloquear simultaneamente as vias endócrinas identificadas neste estudo. Esperamos que esta pesquisa sirva como porta de entrada para opções de tratamento mais eficazes e menos tóxicas para mulheres com câncer endometrial em estágio avançado ou recorrente”, afirmam.
O trabalho foi financiado pelo National Cancer Institute do National Institutes of Health, e conta com a colaboração da Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC).
Referência: Sex Hormone, Insulin and Insulin-like Growth Factor in Recurrence of High Stage Endometrial Cancer - Melissa A. Merritt, Howard D. Strickler, Alan D. Hutson, Mark H Einstein, Thomas E. Rohan, Xiaonan Xue, Mark E Sherman, Louise A. Brinton, Herbert Yu, David S Miller, Nilsa C. Ramirez, Heather A Lankes, Michael J. Birrer, Gloria S. Huang and Marc J. Gunter - Cancer Epidemiol Biomarkers Prev February 23 2021 DOI: 10.1158/1055-9965.EPI-20-1613