Reduzir um terço na mortalidade prematura (30-69 anos) por doenças crônicas não transmissíveis é a meta dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas. Estudo que estimou as mortes por câncer no Brasil até 2030 mostrou que estamos longe de atingir a meta. Os resultados foram publicados na Frontiers in Oncology e revelam que o aumento projetado da mortalidade por câncer colorretal e o controle do câncer do colo do útero continuam como grandes desafios, indicando a necessidade urgente de reforçar programas de prevenção primária e estratégias de detecção precoce. Marianna Cancela (foto), pesquisadora da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA (Conprev), é a primeira autora do trabalho.
Nesta análise, os pesquisadores coletaram dados de mortes por câncer na faixa de 30 a 69 anos, entre 2001 e 2015, a partir do Sistema Nacional de Informações sobre Mortalidade (SIM) e projetaram a mortalidade prematura até 2030. As taxas de mortalidade padronizadas por idade brutas e mundiais por 100.000 habitantes foram calculadas nacionalmente e para as 5 regiões brasileiras.
Os resultados reportados por Cancela et al. indicam que no quinquênio 2026-2030 a projeção de redução é de 12,0% na taxa de mortalidade prematura por câncer entre os homens e uma redução de apenas 4,6% entre as mulheres. Entre as regiões, a variação foi de 2,8% entre as mulheres na região Norte a 14,7% entre os homens na região Sul. “A previsão indica que as taxas de mortalidade por câncer de pulmão vão diminuir no Brasil entre os homens, mas não entre as mulheres (homens 28%, mulheres 1,1% de aumento)”, descrevem os autores.
O estudo também destaca que as taxas de mortalidade por câncer de colo de útero vão permanecer muito altas no Norte do Brasil, enquanto as mortes por câncer colorretal aumentarão em ambos os sexos e em todas as regiões, exceto no Sudeste.
“A extensão da redução está longe da meta do ODS. Nacionalmente, apenas o câncer de pulmão masculino está perto de atingir a meta, refletindo os esforços de longo prazo para reduzir o consumo de tabaco. O aumento projetado da mortalidade por câncer colorretal provavelmente reflete a transição epidemiológica e continua sendo um grande desafio, assim como o controle do câncer do colo do útero. Esses resultados ajudarão a informar o planejamento estratégico para programas de prevenção primária, detecção precoce e tratamento do câncer”, propõe os autores.
Referência: De Camargo Cancela M, Bezerra de Souza DL, Leite Martins LF, Borges L, Schilithz AO, Hanly P, Sharp L, Pearce A, Soejomataram I. Can the sustainable development goals for cancer be met in Brazil? A population-based study. Front Oncol. 2023 Jan 10;12:1060608. doi: 10.3389/fonc.2022.1060608. PMID: 36703792; PMCID: PMC9872119.