Com o objetivo de auxiliar profissionais de saúde a identificar os principais agentes químicos, físicos e biológicos presentes no ambiente geral e ocupacional que contribuem para o desenvolvimento de câncer, o Instituto Nacional de Câncer (INCA) lançou o livro “Ambiente, Trabalho e Câncer: Aspectos Epidemiológicos, Toxicológicos e Regulatórios.
Organizada pelas tecnologistas Márcia Sarpa e Ubirani Otero, da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, da Coordenação de Prevenção e Vigilância do INCA, a publicação também mapeou os principais tipos de cânceres relacionados a exposição ocupacional.
O livro aborda 38 localizações primárias de câncer que podem ter relação com a exposição a agentes cancerígenos presentes nos ambientes onde se vive e trabalha. São 19 localizações a mais do que foi elencado no livro ‘Diretrizes para a vigilância do câncer relacionado ao trabalho’, organizado pela mesma área do INCA.
A Organização Mundial da Saúde (OMS) e a Agência Internacional de Pesquisa em Câncer (IARC) avaliam que cerca de 80% do total de casos de câncer podem ser atribuídos ao ambiente. Os fatores de risco ambientais envolvem - além dos agentes químicos, físicos e biológicos - os hábitos de consumo e comportamento e o ambiente social (alimentação, uso de medicamentos, tabagismo, consumo de álcool, sedentarismo e obesidade).
Segundo a mais recente estimativa mundial, em 2018, ocorreram 18 milhões de novos casos de câncer. Para 2021, o INCA estima 625 mil novos casos de câncer no Brasil. A maior fração atribuível observada para as exposições ocupacionais e câncer relacionado ao trabalho diz respeito ao câncer de pulmão. Cerca de 20% dos casos desse tipo neoplasia em homens poderiam ser evitados caso não houvesse exposição ocupacional a um grande número de agentes presentes nos ambientes trabalho (amianto, metais, sílica, radônio, produtos da exaustão de motores a diesel, são exemplos). O investimento em prevenção é o melhor caminho para a mudança desse cenário, já que a maioria dos fatores de riscos ambientais que podem desencadear a doença são potencialmente preveníveis e modificáveis.
“É importante observar que os dados e estimativas dos casos diagnosticados atualmente, em geral, se referem a exposições que aconteceram décadas atrás. O período entre a exposição e o diagnóstico do câncer relacionado ao trabalho é realmente longo. Um alerta importante que nós especialistas fazemos é que não há níveis seguros de exposição a agentes cancerígenos”, afirma a epidemiologista Ubirani Otero, chefe da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer do INCA.
Prevenção
Dados da OIT apontam que, por ano, no mundo todo, acontecem 666 mil mortes de cânceres associados ao trabalho. Esse dado representa o dobro das mortes relacionadas aos acidentes laborais. O diagnóstico e a mortalidade por câncer associado ao trabalho têm aumentado em razão do crescimento da expectativa de vida e da redução gradual de outras causas de morte, como as doenças transmissíveis e acidentes em geral.
Para prevenir o câncer relacionado ao trabalho e ao ambiente, é necessário observar três eixos fundamentais: a vigilância da doença, da exposição e dos trabalhadores ou população expostos. “É fundamental saber onde estão, quais os grupos mais expostos e quais os tipos de câncer que podem estar associados a eles. Ter conhecimento de como identificar essas exposições e todas as doenças associadas é fundamental para diminuir os riscos, notificar os casos e estabelecer estratégias de vigilância efetivas”, explica Ana Cristina Pinho, diretora-geral do INCA.
Para cooperar com a prevenção de cânceres relacionados ao trabalho, no dia 27 de abril o INCA realizou um acordo com o Ministério Público do Trabalho para o desenvolvimento de ações, estudos e projetos conjuntos em prol do meio ambiente e da saúde dos trabalhadores. O INCA e o MPT trabalham em parceria desde 2018, quando foi firmado formalmente o primeiro acordo. O foco principal, atualmente, é trabalhar abordando os impactos à saúde, em especial o câncer, em trabalhadores que são expostos a agrotóxicos, amianto, benzeno e outros agentes.
Os capítulos do livro foram escritos e revisados por 23 pesquisadores do Instituto Nacional de Câncer, sendo a maioria da Área Técnica Ambiente, Trabalho e Câncer, e por mais 11 pesquisadores de universidades e outras instituições científicas, como a Fundação Jorge Duprat Figueiredo, de Segurança e Saúde no Trabalho/Fundacentro/ME e Fundação Oswaldo Cruz/MS. O material está disponível no site do INCA.
Para acessar a obra completa, clique aqui.