O oncologista Rafael Caparica (foto), fellow do Institut Jules Bordet, Bélgica, é primeiro autor de revisão sistemática e meta-análise que avaliou o benefício da quimioterapia adjuvante em pacientes com câncer de vias biliares. Os resultados foram publicados no periódico Critical Reviews in Oncology/Hematology.
Após revisão de literatura, foram identificados 3 estudos randomizados de fase III que compararam quimioterapia adjuvante versus observação em um total de 866 pacientes com câncer de vias biliares.
Não foi observada diferença significativa entre quimioterapia e observação em termos de sobrevida global (HR 0,91; 95% CI, 0,75-1,09; p = 0,295); no entanto, foi observada uma melhora significativa na sobrevida livre de recorrência (HR 0,83; 95% CI, 0,69-0,99; p = 0,040) com o uso de quimioterapia adjuvante. Os pesquisadores não identificaram nenhum subgrupo que mais se beneficiou da quimioterapia adjuvante, embora tenha sido observada uma tendência em pacientes com linfonodo positivo (HR 0,83; IC 95%, 0,65-1,08; p = 0,165).
“A quimioterapia adjuvante gera um benefício significativo em termos de sobrevida livre de recorrência em pacientes com câncer de vias biliares, e deve ser considerada para aqueles capazes de tolerar tratamento adicional após a cirurgia”, afirmam os autores.
“O estudo de fase III BILCAP comparou a administração de capecitabina adjuvante versus observação em 447 pacientes com câncer de vias biliares. Apesar de em sua análise principal (sobrevida global na população por intenção de tratamento) os resultados não terem alcançado significância estatística, um benefício absoluto de 14.7 meses em sobrevida global foi observado em favor da capecitabina. Somado a isso, análises de endpoints secundários como sobrevida livre de recorrência e sobrevida global ajustada por fatores prognósticos mostraram um benefício significativo em favor da capecitabina”, explica Caparica, acrescentando que os resultados embasaram a recomendação de quimioterapia adjuvante pelos guidelines da American Society of Clinical Oncology (ASCO). “Todavia, 2 estudos de fase III prévios não haviam demonstrado nenhum benefício com o uso de quimioterapia adjuvante em pacientes com câncer de vias biliares. Sendo assim, o papel da quimioterapia adjuvante nessa população permanece controverso”, observa.
“Nesse contexto, ao analisar em conjunto os principais estudos disponíveis sobre o tema, nossa meta-análise gerou resultados que ajudam a elucidar o real impacto da quimioterapia adjuvante em pacientes com câncer de vias biliares, respaldando de certa forma os resultados do estudo BILCAP e as recomendações da ASCO, ao demonstrar um benefício significativo em termos de sobrevida livre de progressão com o uso de quimioterapia adjuvante”, diz Caparica.
Como principais limitações do trabalho, o especialista aponta que esta não é uma meta-análise de dados individuais, e cada estudo incluído utilizou um regime diferente de quimioterapia adjuvante. “A ausência de benefício em sobrevida global pode ter ocorrido pelo baixo número de eventos nos estudos incluídos, e/ou pela heterogeneidade no uso de linhas posteriores de tratamento de doença metastática, porém não se pode descartar a hipótese de que a quimioterapia adjuvante não tenha impacto na sobrevida global desses pacientes. Futuramente, análises de sobrevida com maior tempo de seguimento e resultados de estudos em andamento podem trazer dados relevantes”, conclui.
Referência: Adjuvant chemotherapy in biliary tract cancer patients: A systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials – Rafael Caparica; Marco Bruzzone; Georges Hachem; Marcello Ceppi; Matteo Lambertini; João Glasberg; Evandro de Azambuja; Jean-Luc Van Laethem; Alain Hendlisz - Critical Reviews in Oncology/Hematology - Volume 149, May 2020, 102940 - https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.2020.102940