Gustavo Nader Marta (foto), radio-oncologista do ICESP-FMUSP e do Hospital Sírio-Libanês, em São Paulo, é o primeiro autor de revisão crítica que fornece uma visão geral da aplicabilidade da radioterapia com hipofracionamento moderado para pacientes com câncer de mama, com foco nos fatores que influenciam a tomada de decisão clínica. O trabalho multicêntrico foi publicado no periódico Critical Reviews in Oncology / Hematology.
A radioterapia pós-operatória reduz as taxas de recorrência loco-regional e a mortalidade na maioria dos pacientes com câncer de mama não metastático. Os dados existentes confirmam que a radioterapia com hipofracionamento moderado para câncer de mama é eficiente, conveniente e segura para todas as indicações, volumes alvo (mama ou parede torácica com ou sem reconstrução e drenagens linfáticas regionais), além de ser possível realizar o reforço de dose no leito operatório (boost), caso indicado. “No entanto, apesar dessas evidências, existe ainda muita relutância em diversos países e instituições em adotar a radioterapia com hipofracionamento moderado de forma irrestrita na prática clínica”, sustentam os autores.
“Nesse estudo, todos os racionais clínicos e radiobiológicos são apresentados para a recomendação do emprego do hipofracionamento moderado sem restrições na prática clínica”, esclarece Nader.
O trabalho reuniu um grupo internacional de radio-oncologistas especialistas em câncer de mama que buscou avaliar, integrar e interpretar as evidências existentes em um relatório prático para orientar os médicos em seu manejo diário de pacientes com câncer de mama. Os autores realizaram uma revisão da literatura considerando estudos prospectivos, retrospectivos, revisões sistemáticas, diretrizes e documentos de consenso. Foram selecionados 149 artigos para discussão; seis deles ensaios clínicos randomizados de Fase III com comparações formais entre hipofracionamento moderado e o esquema de fracionamento convencional para pacientes com câncer de mama. O objetivo primário foi a eficácia (taxas de recorrência loco-regional). Os objetivos secundários incluíram segurança (efeitos colaterais) e aspectos radiobiológicos.
Os resultados demonstram que a radioterapia com hipofracionamento moderado para a mama, parede torácica (com / sem reconstrução mamária) e linfonodos regionais é uma alternativa segura e eficaz aos esquemas fracionados convencionais e pode ser considerada como a opção de tratamento para a grande maioria das pacientes. “O uso de radioterapia com hipofracionamento moderado pode ajudar durante crises de saúde como a pandemia COVID-19, para compensar o acúmulo potencial de pacientes cuja radioterapia foi adiada”, destacam os autores.
“Para os centros que ainda não adotaram o uso da radioterapia com hipofracionamento moderado na rotina de forma irrestrita, recomendamos a participação em estudos clínicos em andamento que abordam o uso de radioterapia com hipofracionamento moderado para câncer de mama em algumas circunstâncias clínicas especiais. Os centros que já aplicam o hipofracionamento como padrão devem registrar, revisar e analisar seus resultados, pois isso pode contribuir para fornecer mais evidências e, portanto, confiança nesse tratamento”, concluem.
Referência: The use of moderately hypofractionated post-operative radiation therapy for breast cancer in clinical practice: a critical review – Gustavo Nader Marta et al - https://doi.org/10.1016/j.critrevonc.2020.103090