Felipe Andrés Cordero da Luz (foto) é primeiro autor de estudo publicado na Surgical Oncology que discute a efetividade da radioterapia na prevenção de recorrência do câncer de mama pós-cirurgia.
O manejo locorregional do câncer de mama tem impacto crítico no prognóstico. Neste estudo retrospectivo, de instituição única, o objetivo foi analisar a eficácia da radioterapia frente ao efeito deletério das margens cirúrgicas positivas nos desfechos da doença.
Nesta análise, foram considerados 721 pacientes com câncer de mama após o término do tratamento adjuvante (exceto terapia endócrina), com seguimento mediano de 64,50 meses (3,67-247,40). Regressões de Kaplan-Meier e Cox foram realizadas para obter o valor preditivo dos tratamentos.
Os resultados mostram que a radioterapia minimamente adequada (≥45 cGy) foi associada a melhores resultados em pacientes com câncer de mama comparada à radioterapia inadequada (<45 cGy/não) no controle de recorrências locorregionais e metástases à distância. Em pacientes com margens cirúrgicas positivas (n = 53), a radioterapia foi associada à redução aproximada de 90% no risco de recidiva locorregional [HR ajustada: 0,108 (0,012–0,932), p = 0,043]. A radioterapia não alterou o efeito adverso das margens cirúrgicas positivas, principalmente em pacientes com maior risco de tumores pouco diferenciados (n = 146), presença de invasão linfovascular (n = 163) e subtipo triplo negativo (n = 113). Os dados revelam ainda que a radioterapia foi associada à redução do risco de metástase à distância de 75,2% [HR ajustado: 0,248 (0,081–0,762), p = 0,015] e 67,8% [HR ajustado: 0,322 (0,101–1,029), p = 0,056] em pacientes com tumores triplo-negativos ou com invasão linfovascular.
“O estudo destaca a importância da radioterapia no manejo terapêutico de pacientes com câncer de mama selecionadas conforme as atuais diretrizes. Mesmo que melhore o prognóstico naquelas com fatores de risco para recidivas loco-regionais e à distância, a radioterapia não anula seus efeitos, mas os reduz. Ter essa concepção é fundamental, especialmente no que diz respeito a uma margem cirúrgica positiva de qualquer tamanho, a qual pode, virtualmente, ser controlada cirurgicamente. Empenhos para reduzir a chance de comprometer as margens cirúrgicas, como reduzir o tamanho do tumor pelo uso de terapias pré-cirúrgicas, devem ser consideradas visando tal objetivo para garantir uma maior chance de cura, ou maior sobrevida, para as pacientes", conclui Luz.
Referência: Luz et al. The effectiveness of radiotherapy in preventing disease recurrence after breast cancer surgery. Surgical Oncology. https://doi.org/10.1016/j.suronc.2022.101709