Na edição de julho do Journal of Clinical Oncology, Rahbar et al. discutem métodos de triagem em mulheres assintomáticas sobreviventes de câncer de mama, com mamas densas. Afinal, qual o rastreamento ótimo nessa população? A mastologista Simone Elias (foto), pós-doutora em Radiologia Clínica e orientadora do Programa de Pós-Graduação em Ginecologia da Escola Paulista de Medicina da Universidade Federal de São Paulo (EPM/UNIFESP), analisa a contribuição de Rahbar e colegas.
O câncer de mama é o câncer mais comum entre mulheres da América Latina, com a projeção de registrar 276.480 novos casos em 2020, com 42.170 mortes. Vários ensaios clínicos randomizados demonstraram que o rastreamento mamográfico diminui a mortalidade pela doença e diferentes diretrizes recomendam a mamografia anual ou bienal, independentemente do histórico pessoal ou familiar de câncer de mama. No entanto, em mulheres com antecedentes de câncer de mama, os autores lembram que o desempenho mamográfico é adversamente afetado por alterações relacionadas à cirurgia e à radiação.
Neste artigo, Rahbar et al. descrevem que a mamografia é menos sensível em mulheres com mamas densas (77% v 90%), assim como tem acurácia menor em sobreviventes de câncer de mama. “A tomossíntese da mama (ou mamografia 3D) pode melhorar a precisão da mamografia entre todas as mulheres, especialmente naquelas com mamas densas”, apontam.
Outra técnica considerada pelos autores é a ressonância magnética com contraste, incluindo a RM abreviada (também chamada de fast RM). “Os dados são promissores e essa modalidade de imagem pode ser usada de forma suplementar para aumentar a detecção precoce de câncer em mulheres com mamas densas”, afirmam.
Calcanhar de Aquiles
De acordo com a mastologista Simone Elias, da EPM/UNIFESP, as mamas densas sempre foram o calcanhar de Aquiles da mamografia. “Ainda que todas as etapas da qualidade do exame (posicionamento, equipamento adequado, controle de qualidade e relatório realizado por equipe treinada) sejam respeitadas, o predomínio do tecido fibroglandular é fator impactante em sua acurácia, pois é uma limitação do RX. Deste modo, outras tecnologias são consideradas para o estudo complementar, o que podemos denominar de rastreamento multimodal, o que é necessário em determinadas subpopulações de mulheres.
Mulheres de alto risco sabidamente se beneficiam do rastreamento associando mamografia e ressonância (MMG/RM), assim, como mulheres com histórico pessoal de câncer de mama e/ou mamas densas se beneficiam do rastreamento multimodal MMG/USM.
No entanto, algumas questões dificultam esse aplicação ampla na prática clínica: qualidade do exame (seja ultrassonografia ou RM); resultados falsos-positivos (que geram estresse e biópsias desnecessárias) e custos (decorrentes de mais exames, mais resultados falsos-positivos, mais biópsias, mais over-diagnosis, mais over-treatment).
Os autores defendem as evidências a favor da RMM com primeira ferramenta complementar no rastreamento de mulheres de alto risco, colocando a USM como alternativa, embora esta última com menor taxa de detecção de câncer.
No contexto do rastreio, o objetivo final é o impacto na mortalidade, e essa pergunta permanece sem resposta. Concluem então, que mais estudos do rastreamento com RM são necessários para responder essa importante e definitiva questão”, diz Simone Elias.
Referência: Rahbar, H., Lee, J. M., & Lee, C. I. (2020). Optimal Screening in Breast Cancer Survivors With Dense Breasts on Mammography. Journal of Clinical Oncology, JCO.20.01641. doi:10.1200/jco.20.01641