A vigilância intensiva após o tratamento de pacientes com câncer gástrico com intenção curativa pode levar a um diagnóstico precoce de recorrência da doença, mas seu impacto na sobrevida pouco foi avaliado e é incerto. Agora, estudo de pesquisadores do A.C.Camargo Cancer Center publicado no Annals of Surgical Oncology buscou avaliar se o diagnóstico precoce de recorrência da doença em pacientes assintomáticos estava associado à sobrevida em longo prazo. O cirurgião oncológico Thiago Pereira Diniz é o primeiro autor do trabalho; Felipe Coimbra (na foto, à direita), diretor do Departamento de Cirurgia Abdominal da instituição, e o pesquisador Wilson da Costa Junior, da Baylor University, são os autores sênior.
Este estudo retrospectivo analisou pacientes com adenocarcinoma gástrico estágios 1 a 3C tratados entre 1999 e 2018. Todos os eventos de recorrência foram classificados como sintomáticos ou assintomáticos (detectados por testes de acompanhamento), e as características clínico-patológicas, padrões de recorrência e sobrevida foram analisadas.
Resultados
A coorte consistiu de 669 pacientes tratados com gastrectomia total em 48,6% e linfadenectomia D2 em 88,8% dos casos. A maioria dos tumores era pT3-4 (46,5%), com 45,5% envolvendo metástases linfonodais e 42,3% apresentando histologia difusa. Durante um período de acompanhamento médio de 80,1 meses (95% [IC], 75,3–84,8 meses), 166 pacientes tiveram recorrências (24,8%), sendo 65,7% sintomáticas.
O peritônio foi o principal local de recorrência (37,2%), e a recorrência peritoneal foi associada a pior sobrevida global (hazard ratio, 1,69; 95% CI, 1,2–2,37). A mediana livre de doença, sobrevida pós-recorrência e sobrevida global nos grupos assintomáticos e sintomáticos foram, respectivamente, 13,4 versus 17,2 meses (p = 0,04), 11,9 versus 4,7 meses (p <0,001) e 29,9 versus 26,4 meses (p = 0,21). Quando a sobrevida global foi analisada entre os pacientes com recorrência não peritoneal, não foi observada diferença entre os dois grupos (31,3 vs 31,1 meses; p = 0,46).
“O diagnóstico precoce da recorrência assintomática da doença não afetou a sobrevida global dos pacientes com câncer gástrico tratados com intenção curativa. O uso de estratégias de vigilância intensiva neste cenário ainda requer mais evidências”, concluíram os autores. Além destes resultados levantarem uma discussão sobre o impacto na sobrevida destes pacientes, aspectos como bem-estar, qualidade de vida e custo-efetividade deste seguimento intensivo versus um mais “brando”, devem ser avaliados a partir de agora.
Referência: Diniz, T.P., da Costa, W.L., Gomes, C.C. et al. Symptomatic Recurrence and Survival Outcomes After Curative Treatment of Gastric Cancer: Does Intensive Follow-up Evaluation Improve Survival?. Ann Surg Oncol (2021). https://doi.org/10.1245/s10434-021-10724-5