Estudo multicêntrico realizado no Reino Unido com sobreviventes de câncer testicular, linfoma e leucemia, com idade entre 25 e 50 anos, mostra que o tratamento com testosterona nessa população foi associado à diminuição da gordura abdominal e da massa corporal gorda e ao aumento da massa magra. “É um estudo muito interessante que reforça a necessidade de acompanhamento da dosagem dos níveis de testosterona em pacientes tratados para tumor de testículo”, destaca o oncologista Diogo Bastos (foto), presidente do LACOG-GU e médico do ICESP e do Hospital Sírio-Libanês.
Homens jovens com baixos níveis de testosterona carregam, em média, mais tecido adiposo e menos massa corporal magra, condição associada a maior risco de doenças cardíacas, causa significativa de morte em sobreviventes de câncer. “Em geral, o tratamento do câncer de testículo envolve a remoção do testículo afetado, muitas vezes seguido de quimioterapia. Esses pacientes têm risco de evoluir com hipogonadismo, que além da questão da composição de gordura e redução da massa muscular, pode impactar a vida sexual, com redução da libido, evoluir com fadiga, adinamia, que atrapalham a qualidade de vida do paciente”, observa Bastos.
Este estudo inscreveu 136 homens entre julho de 2012 e fevereiro de 2015, sendo 42,6% na faixa etária de 25 a 37 anos e 57,4% entre 38 e 50 anos. Dessa população, 88% eram pacientes com câncer testicular e 10% de linfoma e leucemia. Os participantes foram randomizados 1:1 para receber testosterona (Tostran 2% gel; 7–12 nmol/l ao dia ) ou placebo por seis meses (26 semanas). Os endpoints coprimários foram massa gorda no tronco corporal e pontuação no SF36 Physical Functioning (SF36-PF) na 26ª semana, por intenção de tratar.
Resultados
A análise na 26ª semana mostra que o tratamento com testosterona comparado ao placebo foi associado à diminuição da gordura (-0,9 kg, IC 95% -1,6 a -0,3, p = 0,0073), diminuição da massa corporal gorda (-1,8 kg, IC 95% -2,9 a -0,7, p = 0,0016) e aumento da massa corporal magra (1,5 kg, IC 95% 0,9-2,1, p <0,001). A diminuição da massa gorda foi maior naqueles com alto índice de gordura na cintura. Não houve impacto do tratamento no SF36-PF ou em qualquer outro escore de qualidade de vida.
“No final do estudo, aqueles em terapia de reposição hormonal perderam, em média, 1,8 kg de massa gorda e ganharam 1,5 kg de massa magra”, analisou Richard Ross, chefe da Unidade de Endocrinologia e Reprodução da Universidade de Sheffield. “É o primeiro estudo do tipo a investigar um dos efeitos tardios do câncer e a traduzir esses dados em evidências clínicas que afetam médicos e pacientes", analisou.
“Em pacientes tratados para tumor de testículo é preciso avaliar a dosagem de testosterona, o eixo hipotálamo-hipofisário, o eixo gonadal, e FSH e LH para que se verificar quais têm necessidade de fazer reposição” explica Diogo. Segundo o oncologista, o grande risco é o paciente que evolui para o hipogonadismo e não é identificado, que sentirá os danos do baixo nível de testosterona ao longo dos anos. “O importante é investigar, e se houver redução do nível de testosterona, realizar a reposição para que o paciente possa manter uma composição corporal adequada em relação à massa muscular, à gordura, e não tenha prejuízo na sua qualidade de vida”, conclui.
O estudo foi financiado pela Cancer Research UK e os resultados estão disponíveis em artigo na PLOS Medicine, em acesso aberto.
Referências: Walsh, J. S., Marshall, H., Smith, I. L., Greenfield, D. M., Swain, J., Best, E., … Ross, R. J. (2019). Testosterone replacement in young male cancer survivors: A 6-month double-blind randomised placebo-controlled trial. PLOS Medicine, 16(11), e1002960. doi:10.1371/journal.pmed.1002960