Uma revisão do Sistema Internacional de Estadiamento (do inglês, ISS) para mieloma múltiplo, publicada online no JCO, traz um novo algoritmo de estratificação de risco com maior poder prognóstico em comparação com o ISS individual. "É um avanço importante, mas vale ressaltar que o novo sistema não substitui o clássico ISS, mais simples”, afirma Angelo Maiolino, professor de hematologia e coordenador do serviço de transplante de medula óssea da Universidade Federal do Rio de Janeiro.
O trabalho foi realizado pelo International Myeloma Working Group (IMWG). O ISS, publicado em 2005, é um sistema de estratificação de risco simples baseado apenas nos níveis séricos de β2-microglobulina e albumina.
O especialista explica que a classificação é de uso experimental. “Ainda não é consenso a estratificação de pacientes por risco para determinar o tratamento. Na clínica, deve-se usar o ISS tradicional, validado em uma grande série internacional e também no estudo do Grupo Brasileiro de Mieloma”.
Métodos e resultados
Os pesquisadores combinaram o International Staging System (ISS) com anomalias cromossômicas (CA) detectadas pela hibridização fluorescente interfase in situ após a purificação de células plasmáticas CD138 e soro de lactato desidrogenase (LDH) para avaliar o seu valor prognóstico em pacientes de mieloma múltiplo recém-diagnosticados.
Foram analisados dados clínicos e laboratoriais de 4.445 pacientes com mieloma múltiplo recém-diagnosticados matriculados em 11 estudos internacionais foram reunidos. Desses, o ISS, anormalidades cromossômicas e dados de LDH foram simultaneamente disponíveis em 3060 pacientes.
Os pesquisadores classificaram os pacientes em três grupos: ISS Revisto I (R-ISS; n=871), incluindo ISS estadio I (nível sérico β2-microglobulina <3,5 mg/L e nível sérico de albumina ≥ 3,5 g/dL), nenhum CA de alto risco [del (17p) e/ou t (4; 14) e/ou t (14; 16)], e nível de HDL normal (menor que o limite superior do intervalo normal); R-ISS III (n=295), incluindo ISS estadio III (nível sérico β2-microglobulina > 5,5 mg/L) e CA de alto risco ou alto nível de LDH; e R-ISS II (n=1894), incluindo todas as outras possíveis combinações.
Os resultados mostraram que em um período de acompanhamento médio de 46 meses, os pacientes no grupo R-ISS I tinham uma taxa de sobrevida global em 5 anos de 82% em comparação com 62% no R-ISS II e de 40% no grupo R-ISS III. As taxas de sobrevida livre de progressão em 5 anos foram de 55%, 36% e 24% nos grupos R-ISS I, R-ISS II e R-ISS III, respectivamente.
"Esta é a primeira abordagem que unifica massa tumoral (ISS) e biologia da doença. Outros papers fizeram isso, mas queríamos ter um padrão para incorporar em ensaios clínicos, caso contrário fica difícil comparar diferentes estudos", afirmou Antonio Palumbo, principal autor e Chefe da Unidade de Mieloma da Universidade de Torino, na Itália. “
Palumbo acrescenta ainda que 95% dos pacientes no estudo receberam novos agentes. No entanto, as novas terapias melhoraram os resultados principalmente em pacientes com risco padrão. "Muito pouco benefício tem sido demonstrado em pacientes de alto risco com novos agentes", explicou.
Em conclusão, os resultados sugerem que o R-ISS é um sistema de estadiamento simples e com bom potencial prognóstico, e deve ser utilizado em futuros estudos clínicos para estratificar de maneira eficaz os pacientes com mieloma múltiplo recém-diagnosticados por seu risco relativo para a sobrevida.
Referência: Palumbo A, Avet-Loiseau H, Oliva S, et al. Revised International Staging System for multiple myeloma: a report from International Myeloma Working Group. J Clin Oncol. 2015. [epub ahead of print]. doi: 10.1200/JCO.2015.61.2267.