Estudo transversal de base populacional identificou que de 2000 a 2016 houve aumento significativo de tumores associados à obesidade em grupos etários mais jovens. Os resultados foram publicados em acesso aberto no JAMA Network Open e sugerem intervenções para reduzir a obesidade, incluindo programas individualizados de rastreamento. O oncologista Antonio Carlos Buzaid (foto), diretor médico geral do Centro de Oncologia da BP - A Beneficência Portuguesa de São Paulo, e membro do comitê gestor do Centro de Oncologia do Hospital Israelita Albert Einstein, comenta o trabalho.
Neste estudo, Koroukian et al utilizaram dados de vigilância epidemiológica para determinar a quantidade de pacientes diagnosticados com câncer associado à obesidade de janeiro de 2000 a dezembro de 2016. Os pesquisadores identificaram 2.665.574 casos de câncer entre obesos e 3.448.126 casos de câncer em não obesos.
Resultados
De 2000 a 2016, o percentual de casos de câncer aumentou na faixa etária de 50 a 64 anos, tanto de tumores associados à obesidade quanto a incidência de câncer entre não obesos (variação de 25,3% para mulheres brancas não hispânicas e 197,8% para homens hispânicos). Na faixa etária de 20 a 49 anos, a mudança no percentual de casos de câncer associados à obesidade variou de -5,9% em mulheres brancas não-hispânicas a 94,6% em mulheres hispânicas. Na faixa etária de 65 anos ou mais, o aumento variou de 2,5% em mulheres brancas não hispânicas a 102% em mulheres hispânicas.
A análise de regressão logística mostrou aumento anual maior nos casos de câncer associados à obesidade na faixa etária de 50 a 64 anos. “Entre os homens de 50 a 64 anos, o índice de odds ratio associado ao câncer devido à obesidade versus não-obesidade variou de 1,005 (intervalo de confiança de 95% [IC] = 1,002-1,008) em negros não hispânicos a 1,013 (95% IC = 1,012–1,014) em homens brancos não hispânicos. Entre as mulheres de 50 a 64 anos, o índice de odds ratio associado ao câncer em obesos versus não obesos variou de 1,002 (IC95% = 0,999-1,006) em mulheres hispânicas a 1,005 (IC95%). = 1,002-1,009) em mulheres negras não hispânicas”, descrevem os autores.
No grupo etário de 50 a 64 anos, alguns dos maiores aumentos foram observados em tumores hepáticos e de tireoide (todos os sexos e etnias), vesícula biliar e outros cânceres biliares (homens hispânicos e não hispânicos, mulheres negras) e câncer de colo do útero (mulheres hispânicas).
Na população mais velha, com idade ≥ 65 anos, Koroukian et al mostraram diminuição no risco de câncer quando comparados os casos na população obesa e os casos de câncer entre não obesos. “Tanto em homens como em mulheres com 65 anos ou mais, o índice de odds ratio de câncer associado à obesidade versus câncer associado à não obesidade foi consistentemente inferior a 1.000 para todos os grupos de raça / etnia avaliados”, diz o estudo.
Em conclusão, a análise que abrange o período de 17 anos indicou mudança no número de casos de câncer associados à obesidade para grupos etários mais jovens.
“Os resultados sugerem que intervenções de saúde pública são necessárias para prevenir e reduzir a obesidade e outros fatores de risco conhecidos, implementar estratégias de rastreamento individualizadas e perturbar a associação entre obesidade e câncer”, apontam os autores.
Para Buzaid, os governos de todos os países devem orientar a nutrição nas escolas para reduzir a obesidade e doenças relacionadas, como câncer e doenças cardiovasculares. "Com certeza é um dos maiores investimentos que os países podem fazer nas gerações futuras", defende.
Referência: Koroukian, S. M., Dong, W., & Berger, N. A. (2019). Changes in Age Distribution of Obesity-Associated Cancers. JAMA Network Open, 2(8), e199261. doi:10.1001/jamanetworkopen.2019.926