Onconews - SABR mostra resultados de longo prazo no câncer de pulmão inicial

daniel 200 foto2 bxEstudo prospectivo que avaliou a radioterapia estereotática ablativa (SABR, da sigla em inglês) em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) em estágio inicial operável reportou no Lancet Oncology resultados de longo prazo. Nesta análise, Chang et al. mostram que a sobrevida de longo prazo após SABR não foi inferior à sobrevida após cirurgia vídeo-assistida (VATS L-MLND) nessa população de pacientes. “A atualização do estudo de não inferioridade realizado pela equipe do MDACC solidifica a SABR para tumores iniciais de pulmão de células não não pequenas em pacientes não operáveis ou que não desejam operar”, avalia o radio-oncologista Daniel Przybysz (foto).

“Por muito tempo, a literatura sentiu falta de um estudo valido e robusto sobre a abordagem desses tumores, uma vez que historicamente a cirurgia (e hoje – pós VIOLET trial - a VATS) se estabeleceu como tratamento padrão”, esclarece.

Neste estudo de braço único realizado no MD Anderson Cancer Center, foram inscritos pacientes com 18 anos ou mais, status de desempenho Zubrod de 0–2, com CPCNP recém-diagnosticado e histologicamente confirmado com doença N0M0 (adenocarcinomas de células escamosas, de grandes células ou CPCNP não especificado de outra forma), tumores com diâmetro de 3 cm ou menos.

A dosagem de SABR foi de 54 Gy em três frações (para lesões periféricas) ou 50 Gy em quatro frações (para tumores centrais, com reforço totalizando 60 Gy). O endpoint primário foi a sobrevida global em 3 anos. Para a análise da correspondência de propensão, os pesquisadores usaram uma coorte de pacientes com CPCNP estágio clínico I submetidos a VATS L-MLND no Departamento de Cirurgia Torácica e Cardiovascular do MD Anderson. A não-inferioridade poderia ser estabelecida se a taxa de sobrevida global em 3 anos após SABR fosse menor do que a sobrevida pós VATS L-MLND em 12% ou menos, com razão de risco (HR) menor que 1, 965. Para determinar o escore de propensão, Chang e colegas usaram um modelo de regressão logística multivariável

Resultados

Entre 1º de setembro de 2015 e 31 de janeiro de 2017, 80 pacientes foram inscritos e incluídos nas análises de eficácia e segurança. O tempo médio de acompanhamento foi de 5,1 anos (IQR 3,9–5,8). A sobrevida global foi de 91% (95% CI 85–98) em 3 anos e de 87% (79–95) em 5 anos.

SABR foi bem tolerada, sem toxicidade de grau 4-5 e um (1%) caso de dispneia de grau 3, pneumonite de grau 2 e fibrose pulmonar de grau 2. Nenhum evento adverso sério foi registrado. A sobrevida global na coorte VATS L-MLND de propensão combinada foi de 91% (IC de 95% 85–98) em 3 anos e de 84% (76–93) em 5 anos.

Em conclusão, SABR foi não-inferior a VATS-MLND no CPCNP estágio IA operável, uma vez que a sobrevida global em 3 anos pós SABR não foi menor do que a observada no grupo VATS L-MLND. Não houve diferença significativa na sobrevida global entre as duas coortes de pacientes (razão de risco 0, 86 [IC 95% 0 , 45-1, 65], p = 0, 65). A SABR continua promissora para esses pacientes, mas o manejo multidisciplinar é fortemente recomendado”, analisam os autores.

Przybysz observa que o estudo, que já tinha parte de seus resultados iniciais publicados em 2015, traz 6 anos após a consolidação na comparação da não inferioridade quando se trata da discussão (fervorosa) VATS x SABR. “No contexto pandêmico atual, a realização de procedimentos não invasivos, com baixa necessidade de manter o paciente dentro de centros hospitalares, de curta duração e não invasivos, se tornou uma opção extremamente atrativa no tratamento de neoplasias”, destaca.

“Entregar ao paciente um tratamento sem furos, sem cortes, em 3 ou 4 sessões de aproximadamente 30-45 minutos com taxas de complicações exíguas e – agora ainda mais solidificado – resultados não inferiores a opção padrão, dá a nossos pacientes a grande recompensa da equação tecnologia x avanços na ciência. Ainda que extremamente seguro, ambos os tratamentos devem ser sempre muito bem indicados e avaliados, feitos por profissionais com conhecimento na área e equipamentos adequados. Importante lembrar também que, embora a radioterapia estereotática ablativa entregue um alta dose de radiação de forma precisa, efeitos colaterais agudos e tardios podem ser vistos e devem ser bem acompanhados durante o follow-up desses pacientes”, conclui Przybysz.

Este estudo está registrado com ClinicalTrials.gov: NCT02357992.

Referência: Surgery versus SABR for early-stage lung cancer—time to call it a draw? - Alexander V Louie; Michael C Tjong; Shankar Siva - Published:September 13, 2021 DOI:https://doi.org/10.1016/S1470-2045(21)00457-5