Um grupo multicêntrico francês liderado por Fabrice André, do Gustave Roussy Cancer Center, em Paris, apresentou dados sobre o estudo SAFIR-O1/UNICANCER, que promete dar mais um passo importante para o desenvolvimento de novas drogas alvo-molecular no tratamento do câncer de mama. O trabalho foi publicado no Lancet Oncology.
A investigação reúne 18 instituições e de junho de 2011 a julho de 2012 recrutou pacientes que tiveram câncer de mama metastático, com biópsia acessível.
As amostras foram analisadas por hibridização genômica comparativa por array e pela matriz de Sanger para sequenciamento de PIK3CA (exon 10 e 21) e AKT1 (exon 4). Essa triagem molecular teve o objetivo de identificar alterações genômicas para proporcionar a terapia-alvo correspondente, com agentes disponíveis ou experimentais. Assim, o principal desfecho primário da investigação era incluir 30% dos doentes para os testes com terapia-alvo.
Ao todo, 423 pacientes foram incluídas. A triagem por CGH array e o sequenciamento por Sanger possibilitou a inclusão de 283 (67%) e 297 (70%) pacientes, respectivamente. A alteração genômica alvo foi identificada em 195 (46%) pacientes, mais frequentemente com mutações em PIK3CA (74 [25%] das 297 alterações genômicas identificadas), CCND1 (53 [19 %]) e FGFR1 (36 [13 %]). 117 (39%) de 297 pacientes com testes genômicos disponíveis apresentaram alterações genômicas raras (definidas como alterações que ocorrem em menos de 5% da população geral), incluindo mutações AKT1, e EGFR , MDM2 , FGFR2 , AKT2 , IGF1R e MET, com alto nível de amplificação.
Os achados do SAFIR- 0I mostraram que foi possível personalizar a terapia em 55 (13%) de 423 pacientes. Dos 43 pacientes que receberam terapia-alvo, quatro (9%) tiveram uma resposta objetiva, e outros nove (21%) tiveram a doença estável por mais de 16 semanas. Foram relatados quatro episódios de eventos adversos relacionados com a biópsia (o que equivale a 1% das pacientes envolvidas), incluindo pneumotórax (grau 3, uma paciente), dor (grau 3, uma paciente), hematoma (grau 3, um paciente), e choque hemorrágico (grau 3, um paciente).
" A principal implicação é que temos de parar de realizar testes de um único gene e avançar para ensaios multigênicos para identificar um subconjunto de pacientes que têm uma probabiilidade maior de se beneficiar da terapia personalizada”, disse André.
Este estudo está registrado com ClinicalTrials.gov, número NCT01414933, e é financiado pelo Instituto Nacional do Câncer da França, pela Breast Cancer Research Foundation e pelas associações Odyssea e Operation Parrains Chercheurs dedicadas ao combate ao câncer.
Referência: Comparative genomic hybridisation array and DNA sequencing to direct treatment of metastatic breast cancer: a multicentre, prospective trial (SAFIR01/UNICANCER)", Lancet Oncology, doi:10.1016/S0140-6736(08)61345-8