Onconews - Segmentectomia como novo padrão de cuidados no câncer de pulmão inicial

pulmao1Estudo randomizado de Fase 3 realizado em 70 instituições no Japão mostrou que a segmentectomia prolongou a sobrevida global em 5 anos comparada à lobectomia em pacientes com câncer de pulmão de células não pequenas (CPCNP) estágio IA, sugerindo que a segmentectomia deve ser o procedimento cirúrgico padrão para essa população de pacientes. Os resultados foram publicados no Lancet por Saji H et al. e são tema de revisão de Jyoti D. Patel na New England Journal Watch.

Neste estudo randomizado, controlado e de não-inferioridade foram considerados pacientes com CPCNP em estágio clínico IA (diâmetro do tumor ≤2 cm; proporção consolidação-tumor >0,5) recrutados a partir de 70 centros japoneses. Os pacientes elegíveis foram randomizados (1:1) para receber lobectomia ou segmentectomia. O endpoint primário foi a sobrevida global para todos os pacientes do estudo. Endpoints secundários incluíram função respiratória pós-operatória (6 meses e 12 meses), sobrevida livre de recidiva, proporção de recidiva local, eventos adversos, proporção de conclusão da segmentectomia, duração da internação, duração da colocação do dreno torácico, duração da cirurgia, quantidade de perda de sangue e número de grampos cirúrgicos automáticos usados no procedimento. A sobrevida global foi analisada com base na intenção de tratar com margem de não-inferioridade de 1,54 para o limite superior do IC de 95% da razão de risco (HR) e estimada usando um modelo de regressão de Cox estratificado.

Os autores descrevem que entre 10 de agosto de 2009 e 21 de outubro de 2014, foram inscritos 1.106 pacientes (população com intenção de tratar) para receber lobectomia (n=554) ou segmentectomia (n=552). No grupo da segmentectomia, 22 pacientes foram transferidos para lobectomia e um paciente recebeu ressecção em cunha. Uma pequena parcela de pacientes em ambos os braços recebeu terapia adjuvante pós-operatória – 67 no braço de lobectomia e 44 no braço de segmentectomia.

No início do estudo, a idade média foi de 67 anos em ambos os braços (32-85 anos), 52,7% homens, 87,5% com histologia de adenocarcinoma. Os pacientes tinham um diâmetro tumoral mediano de 1,6 cm (variação, 0,6-2,0 cm) e 50,0% tinham uma relação consolidação-tumor de 1,0.

Em um seguimento mediano de 7,3 anos (intervalo de 0,0-10,9), a sobrevida global em 5 anos foi de 94,3% (92,1-96,0) para segmentectomia e de 91,1% para lobectomia (IC 95% 88·4–93·2). A superioridade e não-inferioridade da sobrevida global foram confirmadas usando modelo de regressão de Cox estratificado (HR 0,663; IC 95% 0,474-0,927; unilateral p<0,0001 para não inferioridade; p=0, 0082 para superioridade).

A sobrevida global melhorada foi observada consistentemente em todos os subgrupos no grupo de segmentectomia. No seguimento de 1 ano, a diferença significativa na redução do volume expiratório forçado mediano em 1 segundo entre os dois grupos foi de 3,5% (p<0,0001), que não atingiu o limiar predefinido para significância clínica de 10%. A sobrevida livre de recidiva em 5 anos foi de 88,0% (IC 95% 85,0-90,4) para segmentectomia e de 87,9% (84,8-90,3) para lobectomia (HR 0,998; 95 % CI 0,753–1,323; p=0,9889). A proporção de pacientes com recidiva local foi de 10,5% para segmentectomia e de 5,4% para lobectomia (p=0,0018). Um total de 52 (63%) de 83 pacientes e 27 (47%) de 58 pacientes morreram de outras doenças após lobectomia e segmentectomia, respectivamente. Não foi observada mortalidade em 30 ou 90 dias.

Uma ou mais complicações pós-operatórias de grau 2 ou superior ocorreram em frequências semelhantes em ambos os grupos (142 [26%] pacientes que receberam lobectomia, 148 [27%] que receberam segmentectomia).

Em uma análise multivariada, os preditores de complicações pulmonares (incluindo vazamento de ar grau 2 ou superior e empiema) foram segmentectomia complexa (odds ratio, 2,07, IC 95%, 1,11-3,88; P = 0,023) e histórico de tabagismo de 20 maços -anos ou mais (odds ratio, 2,61; IC 95%, 1,14-5,97; P = 0,023).

“Até onde sabemos, este estudo foi o primeiro de Fase 3 a mostrar os benefícios da segmentectomia versus lobectomia na sobrevida global de pacientes com CPCNP inicial com tumores pequenos e periféricos. Os achados sugerem que a segmentectomia deve ser o procedimento cirúrgico padrão para essa população de pacientes”, concluem os autores.

Este estudo está registrado no UMIN Clinical Trials Registry: UMIN000002317. 

Referência: Saji H, Okada M, Tsuboi M, et al. Segmentectomy versus lobectomy in small-sized peripheral non-small-cell lung cancer (JCOG0802/WJOG4607L): A multicentre, open-label, phase 3, randomised, controlled, non-inferiority trial. Lancet. 2022;399(10335):1607-1617. doi:10.1016/S0140-6736(21)02333-3