Estudo norueguês mostrou que a sigmoidoscopia como métodos de rastreio do câncer colorretal reduziu a incidência e mortalidade da doença em homens, mas teve pouco ou nenhum efeito nas mulheres. Os resultados foram publicados no Annals of Internal Medicine. “Esses dados sugerem que o rastreamento do CCR com retossigmoidoscopia deve ser reconsiderado nas mulheres. Entretanto, estudos em outras populações devem ser realizados antes de extrapolar esses resultados para outros programas de rastreamento do CCR”, explica a médica endoscopista Denise Guimarães (foto), coordenadora do programa de rastreamento do câncer colorretal do Hospital de Amor (Hospital do Câncer de Barretos).
Segundo Denise, foi demonstrado previamente que mulheres apresentam neoplasia colorretal avançada no cólon proximal sem apresentar um adenoma concomitante no cólon distal mais frequentemente do que os homens. “A localização do câncer colorretal proximal é mais frequente em mulheres do que nos homens. Essas duas observações associadas, ao fato da retossigmoidoscopia examinar apenas o cólon distal, podem explicar os resultados deste estudo”, avalia.
A recomendações de triagem do câncer colorretal em adultos com idade entre 50 e 70 anos incluem colonoscopia, sigmoidoscopia flexível ou exame de sangue oculto nas fezes. “Não existe um teste melhor do que o outro. Os níveis de evidências que suportam sua eficácia, limitações e riscos variam. A retossigmoidoscopia examina o cólon distal, do reto ao ângulo esplênico, e tem se mostrado um importante teste com resultados de quatro estudos controlados e randomizados prévios ao presente estudo, com redução significativa tanto na incidência quanto na mortalidade pelo CCR. Porém, em um dos trabalhos houve uma redução da mortalidade apenas pelo CCR distal (em 50%), e não foi observada a redução da mortalidade pelo CCR proximal”, diz.
Entre as vantagens da retossigmoidoscopia estão o menor custo e risco quando comparado com a colonoscopia, um preparo mais restrito e o fato de não ser necessária a sedação. A principal desvantagem, porém, é uma menor proteção contra o cólon proximal.
O estudo
O estudo randomizado controlado envolveu homens e mulheres com idades entre 50 e 64 anos sem câncer colorretal no baseline, com desfechos primários incluindo incidência de doença e mortalidade ajustados à idade e estratificada por sexo. A triagem foi realizada entre 1999 e 2001 com sigmoidoscopia flexível com e sem teste de sangue fecal adicional versus nenhuma triagem. Aos participantes com resultados positivos na triagem foi oferecido colonoscopia. Entre 98.678 pessoas, 20.552 foram aleatoriamente designadas para triagem. As taxas de adesão foram de 64,7% nas mulheres e 61,4% nos homens. O seguimento mediano foi de 14,8 anos.
Em geral, a sigmoidoscopia foi associada a uma taxa reduzida de mortalidade por câncer colorretal em homens. Em homens, os riscos correspondentes foram de 1,72% e 2,50%, respectivamente (diferença de risco, -0,78 ponto percentual [IC, −1,08 a -0,48 pontos percentuais]; hazard ratio [HR], 0,66 [IC, 0,57 a 0,78]) ( P para heterogeneidade = 0,004).
O risco absoluto de morte por câncer colorretal em homens foi de 0,49% para o grupo de triagem, comparado a 0,81% para o grupo controle (diferença de risco, -0,33 ponto percentual [IC, -0,49 a -0,16 ponto percentual]; HR 0,63 [IC, 0,47 a 0,83]).
Essa tendência não foi observada para as mulheres envolvidas no estudo. Os riscos absolutos para CRC em mulheres foram 1,86% no grupo de triagem e 2,05% no grupo controle (diferença de risco, -0,19 ponto percentual [95% IC, -0,49 a 0,11 ponto percentual]; HR, 0,92 [IC 0,79 a 1,07]). O grupo de tratamento para mulheres teve um risco absoluto de morte de 0,60%, enquanto o grupo controle teve um risco absoluto de morte de 0,59% (diferença de risco, 0,01 ponto percentual [IC, 0,16 a 0.18 ponto percentual]; HR, 1.01 [CI, 0.77 to 1.33]).
Entre as limitações do estudo incluem o acompanhamento por meio de registros nacionais e a ausência de dados sobre status socioeconômico e etnia, fatores que podem influenciar os resultados. Além disso, os resultados deste estudo podem não ser generalizáveis para todas as populações.
No Brasil, não existe um programa nacional de rastreamento, apenas iniciativas isoladas, geralmente com a pesquisa de sangue oculto nas fezes. Em 2015, o Hospital de câncer de Barretos, em Barretos, São Paulo, iniciou um programa rastreamento do CCR em pessoas entre 50 e 65 anos de idade, utilizando como teste a pesquisa de sangue oculto nas fezes. “O programa abrange as 18 cidades da região da DRS (Divisão Regional de Saúde) de Barretos. Os resultados dos dois primeiros anos mostraram indicadores de performance e de qualidade próximos ao que se recomenda pela literatura internacional”, observa Denise.
Referência: Long-Term Effectiveness of Sigmoidoscopy Screening on Colorectal Cancer Incidence and Mortality in Women and Men: A Randomized Trial - NORCCAP Study Group - Published: Ann Intern Med. 2018. - DOI: 10.7326/M17-1441