Onconews - STAMPEDE: análise final confirma benefício da RT no câncer de próstata metastático

Daniel PrybyszDados já conhecidos do ensaio britânico STAMPEDE mostram que a radioterapia (RT) melhorou a sobrevida global (SG) de pacientes com câncer de próstata metastático recém-diagnosticado, com baixa carga de doença. Análise final de longo prazo reportada 9 de junho por Parker et al. na PlosOne corrobora os achados iniciais, demonstrando que a RT melhora a SG em homens com câncer de próstata metastático com baixa carga de doença e deve ser recomendada como padrão de tratamento. O especialista em radioterapia Daniel Przybysz (foto) comenta os resultados e o impacto da publicação.

Nesta análise, foram randomizados pacientes no Reino Unido e na Suíça entre janeiro de 2013 e setembro de 2016. Os pacientes elegíveis foram randomizados (1:1) para atendimento padrão (SOC) (N= 1.029) e para SOC+RT (N=1.032). Um total de 1.939 participantes tinha carga metastática classificável, 42% com baixa carga de doença e 58% com alta carga. As análises por intenção de tratar (ITT) usaram regressão de Cox e modelos paramétricos flexíveis (FPMs), ajustados para fatores de estratificação (idade, envolvimento nodal, status de desempenho da Organização Mundial da Saúde (OMS), uso regular de aspirina ou uso regular de medicamento anti-inflamatório não esteroide (AINE) e uso planejado de docetaxel). A qualidade de vida nos primeiros 2 anos do estudo foi avaliada prospectivamente através de inquérito validado (questionário QLQ-30).

Em um seguimento mediano de 61,3 meses, a RT de próstata melhorou a SG em pacientes com baixa carga metastática, mas não naqueles com alta carga (respectivamente: 202 mortes na SOC versus 156 no SOC + RT, razão de risco (HR) = 0,64, IC 95% 0,52, 0,79, p < 0,001; 375 SOC versus 386 SOC + RT, HR = 1,11, 95% CI 0,96, 1,28, p = 0,164; p <0,001).

Não foi observada diferença no tempo para eventos locais sintomáticos. Não houve evidência de diferença na qualidade de vida global ou no QLQ-30 Summary Score. A toxicidade urinária a longo prazo de grau 3 ou pior foi relatada para 10 participantes do grupo SOC e 10 do grupo SOC+RT; a toxicidade intestinal a longo prazo de grau 3 ou pior foi relatada para 15 e 11 participantes, respectivamente.

“A RT de próstata melhora a SG, sem prejuízo da QV, em homens com câncer de próstata metastático de baixo carga de doença, recém-diagnosticados, indicando que deve ser recomendada como padrão de tratamento”, concluem os autores.

Em síntese, esses dados apoiam fortemente as diretrizes que já recomendam o uso de RT de próstata em homens com baixa carga de doença metastática. Parker e colegas não encontraram benefício para a RT de próstata em homens com alta carga de doença, seja na sobrevida global ou na prevenção da progressão da doença.

“Interessantemente, os pacientes categorizados como portadores de doença metastática de baixa carga tumoral tiveram e mantiveram um aumento de sobrevida global com significância estatística alta, num HR de 40% quando comparado ao tratamento padrão”, diz o especialista em radioterapia Daniel PrzyBysz. “A recente publicada atualização do estudo STAMPEDE, que foi marco histórico no tratamento do câncer de próstata metastático, vem para consolidar o real benefício do tratamento do sítio primário em pacientes com doença sistêmica”, destaca PrzyBysz. Ele sublinha ainda a grandeza do trial, que traz quase dois mil pacientes avaliados em um estudo Fase III randomizado 1:1, tratados em sua maioria em um sistema de saúde público (UK e Suíça) de alta abrangência populacional.

“Hoje, com resultados que ultrapassam 5 anos, o STAMPEDE trial coloca a radioterapia de próstata como tratamento padrão para esses pacientes. Não obstante - e claro, com todo sentido - a toxicidade somada a esse grupo é aumentada, porém, sem impacto em sua qualidade de vida. Seguindo o racional biológico e a lógica da história natural da doença, a publicação concretiza que ao se tratar o sítio primário neoplásico, o fardo de doença tumoral (tumor burden) é reduzido e abre espaço para que o tratamento sistêmico padrão tenha mais efeito a longo prazo”, analisa Daniel PrzyBysz.

Informações deste ensaio clínico na ClinicalTrials.gov: NCT00268476.

A íntegra do artigo está disponível em acesso aberto.

Referência: Parker CC, James ND, Brawley CD, Clarke NW, Ali A, Amos CL, et al. (2022) Radiotherapy to the prostate for men with metastatic prostate cancer in the UK and Switzerland: Long-term results from the STAMPEDE randomised controlled trial. PLoS Med 19(6): e1003998. https://doi.org/10.1371/journal.pmed.1003998