O ASCO POST do dia 10 de outubro (vol. 6, nº 18) destacou dois estudos apresentados na Conferência Mundial de Câncer de Pulmão (SWOG 0819 e SQUIRE) que sugerem que a alta expressão do receptor do fator de crescimento epidérmico (EGFR) pode indicar potencial benefício de terapias anti-EGFR em câncer de pulmão não-pequenas células escamosas (CPNPC).
Os estudos SWOG 0819 e SQUIRE demonstraram ganhos com a adição de cetuximab (Erbitux®) à quimioterapia, combinação que reduziu o risco de morte em 44% para os pacientes com CPNPC escamosas com tumores com EGFR amplificado. Os dados foram apresentados por Roy Herbst, do Programa de Pesquisa de Oncologia Torácica na Yale School of Medicine, e por Fred R. Hirsch, da Universidade de Colorado, Denver.
Os tumores de células escamosas compreendem cerca de 25% dos casos de CPNPC. São tumores que tendem a ser relacionados com o tabagismo e se caracterizam por um cenário ainda pobre de opções terapêuticas. É nesse contexto que os resultados do SWOG 0819 e do SQUIRE despertam atenção.“Apesar de toda evolução nos últimos anos para o tratamento do câncer de pulmão, a histologia escamosa não obteve grandes avanços. Os resultados de ambos os estudos chamam atenção para um dado interessante, que é a utilização de um marcador biológico para decisões terapêuticas direcionadas”, diz a oncologista Samira Mascarenhas, do Núcleo de Oncologia da Bahia e membro do Grupo Brasileiro de Oncologia Torácica (GBOT).
O estudo de fase III SWOG 0819 demonstrou benefício para cetuximab mais quimioterapia em pacientes com tumores com expressão positiva para EGFR por imuno-histoquímica FISH, especialmente entre pacientes com histologia de células escamosas e que não receberam bevacizumabe.
"A adição de cetuximabe teve efeito mínimo sobre pacientes com CPNPC avançado não selecionados, mas em pacientes com imuno-histoquímica positiva para EGFR houve uma sugestão de benefício, predominantemente no câncer de pulmão de células escamosas", explicou Herbst na coletiva de imprensa da Conferência Mundial de Câncer de Pulmão.
A especialista do GBOT esclarece que os endpoints primários do estudo SWOG 0819 foram sobrevida livre de progressão (SLP) em pacientes com FISH EGFR positivo e sobrevida global (SG) em todo o grupo. Como endpoints secundários, o SWOG 0819 incluiu SG e SLP, assim como uma análise exploratória da SG em pacientes portadores da histologia escamosa.
Dos 1333 pacientes alocados para o estudo, 554 foram considerados para bevacizumabe, de acordo com as regras para utilização. 656 pacientes foram designados para receber cetuximabe associado ao tratamento padrão e 657 foram alocados para o braço controle. “Não houve diferença significativa em SG e SLP para a população geral e pacientes com FISH positivo. No entanto, houve melhora de SG para pacientes com células escamosas e EGFR positivo, quando tratados com a adição de cetuximabe frente ao tratamento padrão”, explica a oncologista do GBOT.
O SQUIRE foi outro estudo a demonstrar a associação entre a expressão de EGFR e taxas de sobrevida global mais favoráveis em pacientes com CPNPC de histologia escamosa tratados com anti EGFR. O SQUIRE comparou a adição de necitunumab ao esquema gencitabina e cisplatina em pacientes portadores de histologia escamosa. “A SG melhorou de 9,2 para 12,6 meses no braço tratado com adição do anticorpo. Sendo assim, o FISH EGFR positivo foi preditor de benefício clínico”, esclarece a especialista do GBOT.
Sem dúvida, os dois estudos avaliando anticorpos da mesma família demonstram que o número de cópias do gene EGFR detectado por imuno-histoquímica FISH parece prever um resultado melhor e poderia, no futuro, ser usado para selecionar os pacientes para tratamento com anticorpos dirigidos. “Esses resultados precisam ser confirmados, com estudos desenhados com essa finalidade, de forma que tenhamos dados consistentes para determinar mudanças no tratamento na prática clínica”, conclui Samira.
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