O estudo randomizado de fase 3 TAX3503 não demonstrou um benefício significativo da adição de docetaxel à terapia de privação androgênica (ADT) em pacientes com câncer de próstata em recorrência bioquímica (BCR) de alto risco após prostatectomia. Os resultados foram publicados online na European Urology Oncology, em artigo com participação do oncologista José Maurício Mota (foto), chefe do Serviço de Oncologia Clínica Geniturinária do ICESP/FMUSP e médico da Oncologia D’Or.
Não existe um padrão de tratamento para pacientes com BCR de alto risco após a prostatectomia. Nesse estudo multicêntrico, os pesquisadores buscaram avaliar se a adição de docetaxel a um período limitado de ADT melhorou a sobrevida livre de progressão (SLP) nesses pacientes.
Pacientes com BCR de alto risco foram randomizados para ADT por 18 meses ± docetaxel (75 mg/m2 q3w por até dez ciclos). A elegibilidade incluiu antígeno específico da próstata (PSA) ≥1,0 ng/ml após prostatectomia com ou sem radioterapia pós-operatória, tempo de duplicação do PSA ≤9 meses e ausência de metástases na tomografia computadorizada e cintilografia óssea.
O desfecho primário foi SLP após a recuperação de testosterona para níveis de não-castração (testosterona> 50 ng / dl). Os desfechos secundários incluíram tempo para recuperação da testosterona, SLP na população por intenção de tratar, sobrevida geral (SG), qualidade de vida e segurança.
Resultados
Entre setembro de 2007 e maio de 2011, 413 pacientes foram designados para ADT ± docetaxel. Em 2012, após a conclusão do recrutamento e tratamento, o patrocinador retirou o apoio do estudo e, em 2013, um registro foi criado para garantir o desfecho primário. A análise final incluiu dados do ensaio original e registro.
Em um acompanhamento médio de 33,6 meses, 260 pacientes demonstraram recuperação dos níveis de testosterona, que ocorreu de forma semelhante entre os grupos. ADT mais docetaxel demonstrou tendência de melhora não clinicamente significativa na sobrevida livre de progressão (mediana de 26,2 vs 24,7 meses) para a população com níveis de testosterona recuperados (218 eventos, hazard ratio [HR] 0,80, 95% [CI] 0,61-1,04) e em sobrevida global para a população intent-to-treat (medianas não alcançadas, HR 0,51, 95% CI 0,23-1,10). Eventos adversos grau ≥3 ocorreram com mais frequência no grupo ADT mais docetaxel (48,0% vs 10,8%).
Segundo Mota, o estudo TAX3503 foi bastante ousado ao buscar intensificação de tratamento com quimioterapia mais terapia de privação androgênica em uma fase precoce do câncer de próstata, tendo iniciado antes da publicação do CHAARTED e do STAMPEDE. “Entretanto, esse estudo foi negativo para seu desfecho primário, não tendo demonstrado benefício com a adição de docetaxel à terapia de privação androgênica em homens com recorrência bioquímica de alto risco após a prostatectomia”, esclarece.
“O estudo também foi importante para demonstrar que o padrão de recuperação da testosterona após a terapia de privação androgênica não foi afetado pela quimioterapia. O avanço da imagem molecular ocorrido na última década certamente irá impactar o cenário da pesquisa em pacientes com recorrência bioquímica após a prostatectomia”, conclui.
Referência: Michael J. Morris, Jose Mauricio Mota, Kristine Lacuna, Patrick Hilden, Martin Gleave, Michael A. Carducci, Fred Saad, Erica D. Cohn, Julie Filipenko, Glenn Heller, Neal Shore, Andrew J. Armstrong, Howard I. Scher, Phase 3 Randomized Controlled Trial of Androgen Deprivation Therapy with or Without Docetaxel in High-risk Biochemically Recurrent Prostate Cancer After Surgery (TAX3503), European Urology Oncology, 2021, ISSN 2588-9311, https://doi.org/10.1016/j.euo.2021.04.008.
https://www.sciencedirect.com/science/article/abs/pii/S2588931121000821