Os cirurgiões Felipe Coimbra (foto) e Wilson Luiz da Costa são autores de artigo1 publicado no Annals of Surgical Oncology que discute passado, presente e futuro da terapia perioperatória e cirúrgica do câncer gástrico avançado. “São reflexões baseadas em um trabalho publicado ano passado, no mesmo periódico, em que avaliamos os resultados da abordagem de tratamento multimodal em uma coorte de pacientes com câncer gástrico localmente avançado tratados com linfadenectomia D2, com o objetivo de identificar fatores prognósticos associados à melhora da sobrevida”, explica Coimbra.
A cirurgia ainda é o único tratamento com potencial curativo no câncer gástrico avançado. Muitos ensaios clínicos que avaliam a terapia adjuvante mostraram melhores resultados2, e a discussão se concentra no melhor momento, esquemas, custos de tratamento e estadiamento.
Em muitos centros, o ultrassom endoscópico (EUS) ainda é o padrão-ouro para o estadiamento do T, mas dados recentes mostraram que uma tomografia computadorizada (TC) dedicada é tão confiável quanto o EUS para uma boa decisão terapêutica, promovendo estratégia de terapêutica ao mesmo tempo em que realiza o estadiamento completo de avaliação TNM, a um custo menor. “Em muitas regiões os cirurgiões e oncologistas podem confiar apenas nessa estratégia para decidir se o paciente precisa de cirurgia üpfront”ou tratamento pré-operatório. Os prós e contras ainda precisam ser discutidos, mas poucos estudos abordaram o tamanho do efeito da resposta ao tratamento neoadjuvante em uma população cirúrgica D2”, observam.
Os autores destacam que ainda existe um grande debate sobre a terapia adjuvante versus neoadjuvante para câncer gástrico avançado, e que o estudo publicado traz implicações prognósticas relevantes para a resposta ao tratamento, demonstrando como o downstaging pode ser um substituto confiável ou ainda melhor para a sobrevida.3 “Nossos dados mostraram que, após neoadjuvância, o yTNM é mais preciso para o prognóstico da sobrevida do que o estadiamento inicial do cTNM”, afirmam.
As taxas de sobrevida global em 5 anos foram de 88,9% para os pacientes com resposta patológica completa (pCR), 95,2% para doença em estágio 1, 67,2% para doença em estágio 2, 33,6% para doença em estágio 3 e 4,4% para doença em estágio 4. Quando apenas os indivíduos que tiveram uma ressecção R0 foram analisados, a taxa de sobrevida em 5 anos foi de 65,9%. Os principais fatores prognósticos para a sobrevida global foram os estágios patológicos de T e N após o tratamento neoadjuvante.
Perspectivas
Segundo os autores, a perspectiva é ter uma melhor ferramenta prognóstica para os pacientes que recebem terapia neoadjuvante para câncer gástrico avançado, com uma técnica fácil, mais barata e acessível para determiná-la. “A importância de uma melhor seleção de pacientes, cirurgia adequada e um sistema de estadiamento dedicado após a terapia combinada é crucial para oferecer a melhor chance de sobrevida a longo prazo”, defendem, acrescentando que são necessários estudos avaliando novas estratégias de terapia pré-operatória com menos toxicidade, melhores taxas de resposta, além de mecanismos que identifiquem pacientes com maior probabilidade de resposta e, alternativamente, aqueles que não responderão.
“Estamos entrando em uma nova era no manejo multidisciplinar do câncer gástrico, e são necessários novos estudos para identificar respondedores, descobrir drogas e entender melhor os resultados”, concluem.
Referências:
1 - Coimbra, F.J.F., da Costa, W.L. ASO Author Reflections: High-Quality Perioperative and Surgical Therapy: The Impact of Tumor Response in Survival. Ann Surg Oncol (2020). https://doi.org/10.1245/s10434-019-07959-8
2 - Noh SH, Park SR, Yang H-K, Chung HC, Chung I-J, Kim S-W, et al. Adjuvant capecitabine plus oxaliplatin for gastric cancer after D2 gastrectomy (CLASSIC): 5-year follow-up of an open-label, randomised phase 3 trial. Lancet Oncol. 2014;15:1389–96.
3 - Coimbra FJF, de Jesus VHF, Ribeiro HSC, et al. Impact of ypT, ypN, and adjuvant therapy on survival in gastric cancer patients treated with perioperative chemotherapy and radical surgery. Ann Surg Oncol. 2019;26:3618–26.