Estudo de Zlotta et al. publicado no Lancet Oncology se apresenta como a melhor evidência até o momento de resultados oncológicos semelhantes entre cistectomia radical e terapia trimodal para pacientes selecionados com carcinoma urotelial músculo-invasivo.
Nesta análise retrospectiva foram incluídos 722 pacientes com carcinoma urotelial músculo-invasivo em estágio clínico T2–T4N0M0, elegíveis tanto para a cistectomia radical quanto para a terapia trimodal (ressecção transuretral máxima de tumor de bexiga seguida de quimiorradiação concomitante). Os pacientes (440 receberam cistectomia radical, 282 terapia trimodal) foram inscritos a partir de três centros universitários nos EUA e Canadá, entre 1º de janeiro de 2005 e 31 de dezembro de 2017.
Todos os pacientes apresentavam tumores solitários menores que 7 cm, hidronefrose ausente ou unilateral e nenhum carcinoma in situ extenso ou multifocal. Os 440 casos de cistectomia radical representaram 29% de todas as cistectomias radicais realizadas durante o período do estudo. O endpoint primário foi a sobrevida livre de metástase. Endpoints secundários incluíram sobrevida global, sobrevida câncer específica e sobrevida livre de doença. As diferenças nos resultados de sobrevida foram analisadas usando escores de propensão (PSM, de propensity score matching) e regressão logística (IPTW, de inverse probability treatment weighting).
Resultados
Na análise PSM, a coorte pareada 3:1 compreendeu 1.119 pacientes (837 cistectomia radical, 282 terapia trimodal), após a correspondência por idade (71,4 vs 71,6), sexo, cT2 (90% em ambos os grupos) presença de hidronefrose (12% vs 10%) e exposição à quimioterapia neoadjuvante ou adjuvante (59% vs 56%).
Em um seguimento mediano de 4,38 anos (IQR 1,6–6,7) para cistectomia radical versus 4,88 anos (2,8–7,7) para terapia trimodal, a sobrevida livre de metástase em 5 anos foi de 74% (95% CI 70–78) para cistectomia radical e de 75% (70–80) para terapia trimodal com IPTW e 74% (70–77) e 74% (68– 79) com PSM. Não houve diferença na sobrevida livre de metástase com IPTW (razão de risco de subdistribuição [SHR] 0·89 [95% CI 0·67–1·20]; p=0·40) ou PSM (SHR 0,93 [0 ,71–1,24]; p=0,64).
A sobrevida câncer específica em 5 anos para cistectomia radical versus terapia trimodal foi de 81% (95% CI 77–85) versus 84% (79–89) com IPTW e 83% (80–86) versus 85% (80– 89) com PSM. A sobrevida livre de doença em 5 anos foi de 73% (95% CI 69–77) versus 74% (69–79) com IPTW e 76% (72–80) versus 76% (71–81) com PSM. Não houve diferença na sobrevida câncer específica (IPTW: SHR 0,72 [95% CI 0,50–1,04]; p=0,071; PSM: SHR 0,73 [0,52–1,02]; p=0,057) e sobrevida livre de doença (IPTW: SHR 0,87 [0,65–1,16]; p=0,35; PSM: SHR 0,88 [0,67–1,16] ; p=0,37) entre cistectomia radical e terapia trimodal. A sobrevida global favoreceu a terapia de trimodalidade (IPTW: 66% [IC 95% 61–71] vs 73% [68–78]; razão de risco [HR] 0,70 [IC 95% 0,53–0,92]; p= 0,010; PSM: 72% [69–75] vs 77% [72–81]; HR 0,75 [0,58–0,97]; p=0,0078).
Em síntese, os resultados da cistectomia radical e da terapia trimodal não foram estatisticamente diferentes entre os centros em termos de sobrevida câncer específica e sobrevida livre de metástase (p=0,22–0,90). A cistectomia de resgate foi realizada em 38 (13%) pacientes com terapia trimodal. O estágio patológico nos 440 pacientes com cistectomia radical foi pT2 em 124 (28%), pT3-4 em 194 (44%) e 114 (26%) linfonodos positivos. O número médio de nódulos removidos foi de 39, a taxa de margem positiva de tecido mole foi de 1% (n=5) e a taxa de mortalidade perioperatória foi de 2,5% (n=11).
Para os autores, este estudo multicêntrico fornece a melhor evidência até o momento de resultados oncológicos semelhantes entre cistectomia radical e terapia trimodal para pacientes selecionados com câncer de bexiga-invasivo. “Esses resultados sustentam que a terapia trimodal, no contexto da tomada de decisão multidisciplinar compartilhada, deve ser oferecida a todos os candidatos com câncer de bexiga invasivo e não apenas para pacientes com comorbidades observadas, para os quais a cirurgia não é uma opção”, concluem os autores.
Este estudo foi financiado pela Sinai Health Foundation, Princess Margaret Cancer Foundation e pelo Massachusetts General Hospital.
Referências:
Published:May 12, 2023DOI: https://doi.org/10.1016/S1470-2045(23)00170-5