Estudo de pesquisadores do Hospital de Base/Faculdade de Medicina de São José do Rio Preto buscou determinar a prevalência da infecção por COVID-19 em pacientes com tumores sólidos em tratamento sistêmico em um hospital público brasileiro, além de avaliar a associação entre o nível socioeconômico e a prevalência da infecção. A oncologista Aline Fares (foto) é a primeira autora do trabalho publicado no periódico e-cancer.
Pacientes com câncer afetados pela COVID-19 apresentam maior risco de desenvolver complicações e piores resultados em comparação com a população sem câncer, principalmente aqueles em tratamento sistêmico ativo.
No estudo, foram incluídos pacientes assintomáticos consecutivos em tratamento para tumores sólidos no centro de quimioterapia e infusão do Hospital de Base. Os pacientes foram testados prospectivamente para síndrome respiratória aguda grave 2 pela infecção por COVID-19 por PCR com swabs nasais e orofaríngeos imediatamente antes do tratamento. Uma pesquisa socioeconômica foi realizada antes do teste, e as características demográficas e socioeconômicas foram resumidas em médias, medianas e proporções.
Resultados
Entre 06 e 13 de outubro de 2020, foram identificados 148 pacientes assintomáticos. Destes, 41 foram excluídos, restando 107 pacientes elegíveis. A mediana de idade da população foi de 58 anos (DP ± 12,6); 54% eram mulheres e 90% se autodeclararam brancas.
Os tumores mais comuns foram do trato gastrointestinal (36%) e mama (25%). A maioria dos pacientes apresentava doença metastática (59%) e estava em tratamento antineoplásico com quimioterapia (95%). Em relação ao nível socioeconômico, 46% da população tinha apenas o ensino fundamental ou era analfabeto, 92% possuía renda pessoal inferior a U$ 380 e 88% tinha renda domiciliar inferior a U$ 585.
Entre 107 pacientes testados, apenas 1 (0,9%) foi positivo para COVID-19, um homem de 48 anos, residente na zona urbana, com ensino fundamental completo e renda pessoal mensal inferior a U$ 390.
Em conclusão, os resultados demonstraram que apesar da alta prevalência de COVID-19 no Brasil, a coorte demonstrou baixa prevalência de COVID-19 (0,9%) em pacientes assintomáticos com câncer. “Nossa hipótese é que os pacientes com câncer, independentemente de sua condição socioeconômica, estão cientes do risco aumentado de desenvolver uma doença grave e, por isso, são mais aderentes ao distanciamento físico, uso de máscaras e medidas preventivas de higiene”, concluíram os autores.
Referência: Fares Aline F, Fadul Luiza A, Benetton Barbara, Nogueira Mauricio L, Lanza Marcia, Araujo Daniel V (2021) Systematic SARS-CoV-2-testing for asymptomatic cancer patients treated at a public healthcare tertiary centre in Brazil ecancer 15 1269