Estudo publicado no JAMA Network Open mostrou que em pacientes idosos tratados com quimioterapia, a ocorrência de eventos adversos de grau 3 ou superior relacionados ao tratamento foi associada a um declínio na qualidade de vida e/ou funcionamento físico ou mortalidade após 1 ano, destacando a importância da triagem de fragilidade pré-tratamento e da individualização do cuidado.
“Embora pacientes mais velhos apresentem risco aumentado de toxicidade relacionada à quimioterapia de grau 3 ou superior, nenhum estudo se concentrou na associação entre efeitos tóxicos e qualidade de vida (QV) e funcionamento físico”, observaram os autores.
Neste estudo de coorte prospectivo e multicêntrico, os pesquisadores buscaram investigar a associação entre eventos adversos de grau 3 ou superior relacionados à quimioterapia com a qualidade de vida e/ou funcionamento físico ao longo do tempo em pacientes idosos.
Foram incluídos pacientes com 70 anos ou mais que estavam programados para receber quimioterapia com intenção curativa ou paliativa, e foi realizada uma avaliação geriátrica. Os pacientes foram tratados com quimioterapia entre dezembro de 2015 e dezembro de 2021. A qualidade de vida e a funcionalidade física foram analisadas no início do estudo, após 6 e 12 meses.
O endpoint primário foi um desfecho composto, definido como declínio na qualidade de vida e/ou funcionamento físico ou mortalidade aos 6 meses e 12 meses após o início da quimioterapia. As associações entre os efeitos tóxicos e o desfecho composto foram analisadas com modelos de regressão logística multivariável.
Resultados
Entre 276 pacientes (mediana de 74 anos de idade; IQR, 72-77 anos), 177 (64%) eram do sexo masculino, 196 (71%) receberam quimioterapia com intenção curativa e 157 (57%) tinham câncer gastrointestinal. Do total de pacientes, 145 (53%) apresentaram déficit em 2 ou mais dos 4 domínios da avaliação geriátrica e foram classificados como frágeis.
Efeitos tóxicos de grau 3 ou superior foram observados em 94 pacientes (65%) com fragilidade e 66 (50%) daqueles sem fragilidade (P = 0,01). Declínio na qualidade de vida e/ou funcionalidade física ou morte foi observado em 76% dos pacientes com fragilidade e em 64% a 68% daqueles sem fragilidade.
Entre os pacientes com fragilidade, eventos adversos de grau 3 ou superior foram associados ao desfecho composto aos 6 meses (odds ratio [OR], 2,62; 95% CI, 1,14-6,05), mas não aos 12 meses (OR, 1,09; 95% CI, 0,45-2,64) e foram associados à mortalidade em 12 meses (OR, 3,54; 95% CI, 1,50-8,33). Os eventos adversos não foram associados ao desfecho composto em pacientes sem fragilidade (6 meses: OR, 0,76; 95% CI, 0,36-1,64; 12 meses: OR, 1,06; 95% CI, 0,46-2,43).
“A triagem de fragilidade pré-tratamento e as adaptações individualizadas do tratamento poderiam prevenir um declínio da saúde relacionado ao tratamento”, concluíram os autores.
Referência: Baltussen JC, de Glas NA, van Holstein Y, et al. Chemotherapy-Related Toxic Effects and Quality of Life and Physical Functioning in Older Patients. JAMA Netw Open. 2023;6(10):e2339116. doi:10.1001/jamanetworkopen.2023.39116