Uma subanálise do estudo de fase III CONVERT (LBA2) apresentada na European Lung Cancer Conference (ELCC) demonstra a segurança da utilização do fator estimulador de colônias de granulócitos (G-CSF) durante a quimiorradioterapia simultânea no câncer de pulmão pequenas células (CPPC).1 O CONVERT é um late breaking abstract apresentado na conferência europeia domingo, 7 de maio. A análise completa do estudo deve ser publicada no final do ano e pode ajudar a mudar as diretrizes atuais.
"O tratamento ideal para o CPPC estágio-limitado é a quimiorradioterapia simultânea", disse Fabio Gomes, oncologista do Christie NHS Foundation Trust, em Manchester, Reino Unido, e principal autor do estudo. "A eficácia deste tratamento intensivo é equilibrada por mais toxicidade, principalmente hematológica, mas também esofágica e pulmonar, o que significa que este não é um tratamento considerado para todos os pacientes, uma vez que muitos terão dificuldade para permanecer no tratamento planejado", explicou.
Os fatores de estimulação de colônias de granulócitos (G-CSFs) são comumente utilizados como uma medida de suporte para aumentar a sobrevida, proliferação e diferenciação de neutrófilos. A neutropenia esperada é menos grave e os pacientes se recuperam mais rapidamente, reduzindo o risco de complicações infecciosas. No entanto, seu uso durante a quimiorradioterapia simultânea no CPPC é controverso e a recomendação da Sociedade Americana de Oncologia Clínica (ASCO) é contrária à sua utilização de rotina.2 A recomendação da ASCO se deve a um ensaio randomizado com 215 pacientes elegíveis, realizado entre 1989 e 1991, que mostrou um aumento significativo da trombocitopenia grave, anemia grave, complicações pulmonares e mortes por toxicidade quando foram utilizados granulócitos-macrófagos CSFs (GM-CSFs) durante a quimiorradioterapia simultânea.
Gomes observa que houve duas grandes mudanças desde que este estudo foi publicado em 1995 que podem impactar a segurança do CSF neste contexto. “Em primeiro lugar, o ensaio testou GM-CSFs que agem em mais de uma linhagem de células sanguíneas e não são comumente utilizados atualmente. Ao invés disso, hoje em dia nós utilizamos G-CSFs, que são mais específicos e visam apenas a linhagem neutrofílica. Em segundo lugar, as técnicas modernas de radioterapia evoluíram significativamente desde então e são mais precisas, o que reduz os riscos de toxicidade", afirmou.
O estudo
O estudo de fase III CONVERT inscreveu 547 pacientes com CPPC estágio-limitado para quimiorradioterapia simultânea, randomizados para radioterapia uma ou duas vezes por dia. Não houve diferença na sobrevida global entre os dois grupos.4
Cerca de 40% dos pacientes receberam G-CSF em algum momento durante o tratamento. Para a análise apresentada na ELCC, foram comparadas as toxicidades e desfechos entre os pacientes que receberam G-CSF durante a quimiorradioterapia simultânea com aqueles participantes que não receberam G-CSF.
Os pesquisadores confirmaram que a chance de trombocitopenia ou anemia grave durante o tratamento quase dobrou em pacientes tratados com G-CSF (cerca de 30% e 20%, respectivamente). No entanto, esses índices foram menores do que aqueles relatados anteriormente. Isso foi seguido por um uso significativamente maior de outras medidas de suporte como transfusão de sangue e plaquetas. Não houve diferença na incidência de complicações pulmonares ou na sobrevida.
"O G-CSF não teve um impacto negativo significativo nos resultados destes pacientes, o que é um resultado muito reconfortante. A maior toxicidade hematológica foi equilibrada por um tratamento de suporte apropriado ao longo do tratamento”, disse Gomes.
Segundo o especialista, a partir dessa análise é possível concluir que o uso de G-CSF durante a radioterapia torácica é seguro e deve apoiar os pacientes a receber o curso completo do tratamento planejado de quimiorradioterapia simultânea para obter o melhor benefício possível. “Estes achados devem oferecer aos médicos a confiança no uso do G-CSF quando necessário neste contexto. Pretendemos publicar uma análise completa no final deste ano, o que pode ajudar a mudar as diretrizes atuais", acrescentou.
Stefan Zimmermann, consultor sênior do Departamento de Oncologia Médica do HFR - Hôpital Cantonal, na Suíça, afirmou que os oncologistas precisam do G-CSF para mitigar a neutropenia e aumentar a entrega e a adesão à quimioterapia, mas querem os efeitos benéficos da terapia simultânea para compensar os riscos tóxicos. "Nesta análise, o uso de G-CSF não resultou em um risco aumentado de pneumonite, mas a incidência de trombocitopenia grave é uma preocupação”, disse.
Zimmermann acrescentou que o uso de G-CSF não foi prejudicial à sobrevida livre de progressão ou sobrevida global. “Pode-se concluir que a profilaxia primária ou secundária da neutropenia febril com G-CSF é justificada, mas pacientes com maior risco de trombocitopenia devem ser tratados com cautela", observou.
Referências
1 - Abstract LBA2_PR - 'Use of G-CSF and prophylactic antibiotics with concurrent chemo-radiotherapy in limited-stage small cell lung cancer: results from the phase III CONVERT trial,' will be presented by Dr Fabio Gomes during the Proffered Paper session 'SCLC and early stage NSCLC' on Sunday, 7 May, 09:00 (CEST).
2 - Smith TJ, et al. Recommendations for the Use of WBC Growth Factors: American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update. J Clin Oncol. 2015;33(28): 3199–3212.
3 - Bunn PA Jr, et al. Chemoradiotherapy with or without granulocyte-macrophage colony-stimulating factor in the treatment of limited-stage small-cell lung cancer: a prospective phase III randomized study of the Southwest Oncology Group. J Clin Oncol. 1995;13(7):1632–1641.
4 - http://meetinglibrary.asco.org/content/165387-176