A combinação de um vírus oncolítico e terapia CAR T-cells demonstrou resultados promissores no tratamento de tumores sólidos difíceis de tratar apenas com a terapia CAR T. Os resultados do estudo pré-clínico liderado por pesquisadores do City of Hope foram publicados na Science Translational Medicine. “A estratégia representa uma importante prova de conceito que pode ser explorada para a expressão de outros antígenos além do CD19 para os quais haja CARs validados”, avalia Martín Bonamino (foto), pesquisador do Instituto Nacional de Cancer (INCA) e da Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ).
A terapia com células CAR-T CD19 é aprovada pela agência norte-americana Food and Drug Administration para o tratamento de neoplasias hematológicas, como linfomas de células B e leucemia linfoblástica aguda. Em tumores sólidos, sua atividade é limitada pela falta de antígenos tumorais restritos ao tumor e expressos homogeneamente. “Projetamos um vírus oncolítico para expressar uma proteína CD19 (CD19t) truncada, sem sinalização, para entrega seletiva ao tumor, permitindo o direcionamento de células CAR T CD19. O trabalho pode contribuir para expandir seu uso também para o tratamento de pacientes com tumores sólidos”, destacam os autores.
Primeiro, os pesquisadores criaram um vírus oncolítico (OV19t) para infiltrar em células tumorais e produzir CD19 truncado (CD19t). A estratégia foi realizada em linhagens de câncer de mama triplo-negativo, câncer de pâncreas, próstata, ovário, cabeça e pescoço e células tumorais cerebrais. As células CAR T CD19 foram então combinadas com OV19t in vitro e em estudos terapêuticos em camundongos.
Os resultados sugerem ainda que os camundongos curados com a combinação de CAR T-cells e vírus oncolítico apresentaram imunidade anti-tumoral prolongada. “O sistema imunológico desenvolveu uma resposta de memória ao tumor”, afirmam. “Nossa pesquisa demonstra que os vírus oncolíticos são uma abordagem promissora que pode ser combinada estrategicamente com a terapia com CAR T-cells para atingir tumores sólidos de forma mais eficaz”, acrescentam.
Segundo Bonamino, algumas questões devem ser abordadas a partir destes resultados iniciais promissores, como a possibilidade de o vírus promover a expressão de CD19 em tecidos não tumorais, levando a efeitos colaterais indesejados na presença das CAR T-cells. “Outro ponto importante a ser explorado é se a administração local do vírus no tumor seria capaz de promover respostas contra tumores distantes ou se administrações sistêmicas do vírus seriam necessárias. Estas administrações sistêmicas, embora possíveis, teriam que ser validadas em termos de segurança”, observa. “Em todo caso, o artigo apresenta uma importante prova de conceito de uma forma inovadora de combinar vírus oncolíticos com CAR T-cells”, conclui.
Referência: Effective combination immunotherapy using oncolytic viruses to deliver CAR targets to solid tumors - Anthony K. Park, Stephen J. Forman and Saul J. Priceman et al - Science Translational Medicine 02 Sep 2020: Vol. 12, Issue 559, eaaz1863 - DOI: 10.1126/scitranslmed.aaz1863