Estudos confirmam benefícios da abiraterona e da enzalutamida no câncer de próstata refratário a castração. Alteração no receptor de androgênio ARV-7 pode estar relacionada ao mecanismo de resistência. O câncer de próstata continua como a neoplasia mais frequente no sexo masculino, correspondendo a 27% de todos os tumores malignos.
No âmbito da doença localizada, o grupo escandinavo do SPCG-4 reportou os dados atualizados de prostatectomia radical versus vigilância ativa. Determinar se há ganho de sobrevida na população de pacientes com doença inicial da próstata é relevante, pois há risco de um aumento do diagnóstico da doença devido ao rastreamento com PSA, além de potenciais eventos adversos ocasionados pelo tratamento. Em resumo, esta análise mostra que, não obstante ser a vigilância ativa útil e factível em um subgrupo específico de pacientes com doença de baixo risco, na vigência de progressão ou quando diretamente comparada à cirurgia, há claramente um benefício de sobrevida com esta última abordagem. Com um tempo de seguimento mediano de 12,8 anos, a mortalidade no grupo tratado com prostatectomia foi de 46,1% e de 52,7% no grupo de vigilância ativa. A incidência cumulativa de metástases à distância também foi significativamente menor no grupo de tratamento versus observação (21,7% vs 33,4%, respectivamente).1
Um estudo interessante publicado em 2014 mostrou que o uso diário de AAS (ácido acetil-salicílico) poderia reduzir a mortalidade no câncer de próstata. Nesta série, 2.936 homens com câncer localizado foram incluídos na análise sendo que 1.131 usavam o AAS na dose acima de 75 mg. Em um seguimento mediano de 5,5 anos, os pacientes que estavam em uso do AAS obtiveram uma redução de 39% no risco de morte em comparação com aqueles que não tomavam o AAS (P<0,05). Novas análises com uma coorte maior de pacientes serão necessárias para validar este resultado.2
Em uma outra direção, a suplementação vitamínica com selênio e vitamina E não mostrou nenhum benefício favorável no comportamento do câncer de próstata. Além disto, reposição vitamínica foi capaz de aumentar a chance de tumores de alto grau, principalmente naqueles pacientes com uso do selênio em doses acima das recomendadas para uso diário.3
No âmbito da doença avançada e metastática, um dos assuntos mais comentados de 2014 foi a apresentação em plenária da ASCO do estudo CHAARTED. Este estudo randomizou 790 pacientes com Câncer de Próstata avançado para receber Docetaxel 75 mg/m2 por 6 ciclos associado a bloqueio hormonal versus bloqueio hormonal isolado. Cerca de 65% destes pacientes tinham doença metastática de alto volume, caracterizada por metástases viscerais e/ou 4 ou mais sítios de doença óssea. O objetivo primário deste estudo foi Sobrevida Global (SG). Em um seguimento de 29 meses, a SG foi de 58 meses para o tratamento com quimio e hormonioterapia versus 44 meses para o tratamento hormonal isolado. O benefício foi ainda superior para aqueles pacientes com alto volume de doença à apresentação (49 vs 32 meses).4
O tratamento do câncer de próstata refratário a castração (CPRC) foi revolucionado nos últimos anos por drogas capazes de aumentar a sobrevida global e claramente melhorar a qualidade de vida dos pacientes. Em 2014, duas drogas expoentes neste cenário, abiraterona e enzalutamida, foram novamente exploradas com atualizações de dados. O estudo PREVAIL analisou o papel da enzalutamida na população de pacientes refratários e metastáticos, mas sem uso prévio de quimioterapia. Neste estudo, a sobrevida global e todos os objetivos secundários favoreceram a enzalutamida na comparação com placebo (32,4 vs 30,2 meses; HR 0.71).5
Nesta mesma linha, o estudo COU AA-302 teve seus dados de SG atualizados. Esta análise foi apresentado no ESMO e mostrou que a abiraterona em comparação ao placebo aumentou a SG de 30,1 para 35,3 meses (HR 0.79).6
É importante salientar que análises de sobrevida global nestes cenários são complicadas devido ao uso sequencial de novas e ativas abordagens de tratamento na progressão da doença.
Um último estudo relevante publicado em 2014 foi uma análise molecular através de células tumorais circulantes (CTCs). A detecção de uma alteração no receptor de androgênio das células tumorais, conhecido com ARV-7 (variante de splice) está relacionada a um maior grau de resistência ao uso de drogas como enzalutamida e abiraterona. Certamente, estes dados precisam ser reproduzidos em maior escala em coorte prospectiva.7
Referências Bibliográficas:
1. Bill-Axelson A, et al. N Engl J Med; 370:932-42. 2014
2. Flahavan et al. Annals of Oncology; 25: 154-159. 2014
3. Kristal AR et al. J NatlCancer Inst. 22 Feb. 2014
4. Sweeney C. et al. ASCO. LBA 2. 2014
5. Beer TM, et al. N Engl J Med.;371(5):424. 2014
6. Rathkopf DE, et al. Eur Urol. 2014 (ESMO)
7. Antonarkis EM, et al. N Engl J Med. 2014;371(11):1028.
Igor Morbeck
Grupo Brasileiro de Tumores Urológicos (GBTU)