Gustavo Werutsky (foto), do Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG) e do Hospital São Lucas PUCRS, em Porto Alegre, destaca os principais aspectos do consenso de experts de St. Gallen sobre o tratamento do câncer de mama inicial. O refinamento da classificação de subtipos de câncer de mama, o risco de recaída e a predição da resposta ao tratamento multidisciplinar para o câncer de mama inicial foram os principais temas da 14ª Conferência Internacional de Câncer de Mama de St. Gallen 2015.
O evento em Viena reuniu cerca de 4 mil participantes de 134 países. No último dia, um painel formado por aproximadamente 50 de líderes de opinião do mundo votou nas diversas questões sobre o tratamento atual do câncer de mama inicial.
Das mais de 200 questões respondidas pelo painel de revisores, os principais pontos de consenso quanto às recomendações de tratamento são os seguintes:
Cirurgia - considerou-se adequadas margens do tumor definidas como "sem tinta” no tumor invasivo ou carcinoma ductal in situ. Omitir o esvaziamento axilar em pacientes com uma ou duas macrometástases é seguro conforme os estudos ACOSOG Z011 e AMAROS.
Baseado em estudos recentes (NCIC-CTG MA.20 e EORTC 22922-10925), a irradiação de linfonodos regionais na doença com linfonodo-positivo deve ser considerada e já demonstrou melhor controle da doença e sobrevida global. Também o regime de radioterapia hipofracionada foi considerado apropriado independente da idade para pacientes sem tratatamento quimioterapico ou envolvimento linfonodal (estudos START e Ontario, Canadá).
O painel considera os seguintes testes moleculares: Oncotype DX, MammaPrint, PAM-50 ROR, EndoPredict e BreastCancer Index úteis prognosticos para os primeiros 5 anos. PAM-50 ROR foi considerado claramente prognóstico além dos 5 anos pela maioria dos experts do Painel. Apenas o Oncotype DX foi considerado de valor em predizer o benefício da quimioterapia adjuvante.
Quanto à classificação de subtipos de câncer de mama, a principal mudança foi em relação ao cut-off do Ki67 entre 20-30% para diferenciar doença “luminal B-like” baseados nos valores de laboratorio local. Talvez este seja o ponto mais controverso da nova classificação de subtipos tumorais proposta por St. Gallen.
Para as pacientes pré-menopáusicas com doença endócrino responsiva, o Painel endossou o papel da supressão da função ovariana com tamoxifeno ou inibidor da aromatase para pacientes de alto risco conforme resultados dos estudos SOFT e TEXT. O Painel observou o valor de um agonista LHRH administrado durante a quimioterapia adjuvante para preservação da função ovariana e fertilidade em pacientes na pré-menopausa com câncer de mama receptor hormonal negativo (estudo POEMS). Além disso, endossou que a terapia adjuvante endócrina por 10 anos deve ser considerada em pacientes com câncer de mama receptor hormonal positivo de alto risco.
Por fim, os autores consideram que a maioria das mortes por câncer de mama ocorre em países subdesenvolvidos nos quais testes laboratoriais e tratamentos caros são inacessíveis para as pacientes. Dessa forma, o desenvolvimento de tratamentos efetivos menos caros é uma prioridade.
Autor: Gustavo Werutsky é Professor Assistente do Serviço de Oncologia Clínica do Hospital São Lucas da PUCRS; Diretor Científico do Latin American Cooperative Oncology Group (LACOG); e Membro da Comissão Científica do Grupo Brasileiro de Estudos do Câncer de Mama (GBECAM).
Referências:
1. A. S. Coates, et al. Tailoring therapies-improving the management of early breast cancer: St Gallen International Expert Consensus on the Primary Therapy of Early Breast Cancer 2015.Ann Oncol. 2015 Aug;26(8):1533-46
2. Esposito A, et al. Highlights from the 14(th) St Gallen International Breast Cancer Conference 2015 in Vienna: Dealing with classification, prognostication, and prediction refinement to personalize the treatment of patients with early breast cancer.Ecancermedicalscience. 2015 Mar 31;9:518