O oncologista André Murad (foto) explica o funcionamento da Vacina de Oxford (AZD1222), que em estudo inicial demonstrou resultados promissores na prevenção da COVID-19. Confira, em mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’.
Por André Murad*
Um vetor de vacina para adenovírus chimpanzé (ChAdOx1) desenvolvido no Jenner Institute de Oxford foi escolhido como a tecnologia de vacina mais adequada para uma vacina SARS-CoV-2, pois pode gerar uma forte resposta imune a partir de uma dose. Além disso, não é um vírus replicante, portanto, não causa uma infecção contínua no indivíduo vacinado, o que a torna mais segura para crianças, idosos e qualquer pessoa com uma condição pré-existente, como diabetes.
Os vetores adenovirais do chimpanzé são um tipo de vacina muito bem estudado, tendo sido usado com segurança em milhares de indivíduos, de 1 semana a 90 anos de idade, em vacinas direcionadas a mais de 10 doenças diferentes.
Os coronavírus têm espinhos em forma de taco em seu revestimento externo. Respostas imunes de outros estudos sobre coronavírus sugerem que esses são um bom alvo para uma vacina.
A vacina de Oxford (AZD1222) contém a sequência genética desta proteína de pico de superfície dentro da construção ChAdOx1. Após a vacinação, é produzida a proteína de pico de superfície do coronavírus, que inicia o sistema imunológico para atacar o coronavírus, se mais tarde infectar o corpo.
Uma característica de extremo interesse é que a vacina de Oxford é dupla, ou seja, ela estimula tanto a imunidade humoral (produção de anticorpos) quanto a celular (Linfócitos T). O estudo de Fase I com mil voluntários publicado na Lancet foram muito auspiciosos e encorajadores. Os pesquisadores informaram que a vacina produziu anticorpos e células T "assassinas" para combater a infecção. Anticorpos neutralizantes, que são vitais para se obter proteção contra o vírus, foram detectados nos participantes após 28 dias.
A vacina foi bem tolerada e não houve eventos adversos graves, de acordo com os pesquisadores. Fadiga e dor de cabeça foram os mais relatados. Outros efeitos colaterais comuns incluem dor no local da injeção, dor muscular, calafrios e febre.
Provavelmente serão necessárias 2 ou 3 doses para imunização duradoura. Aguardamos com otimismo os resultados definitivos do estudo de fase III, já em andamento, previstos para mais alguns meses.
*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia (DF)