Onconews - RNAs não codificantes longos

Murad 2019 bxEm mais um tópico da coluna ‘Drops de Genômica’, o oncologista André Murad (foto) explica o que são os RNAs não codificantes longos e seu papel na regulação da expressão gênica do câncer. Confira.

Por André Murad*

RNAs não codificantes longos (lncRNAs) são RNAs com mais de 200 nucleotídeos e não codificam uma proteína (embora pequenos peptídeos codificados por alguns lncRNAs tenham sido detectados). 

Alguns lncRNAs interagem com genes adjacentes, recrutando modificadores da cromatina para aumentar ou suprimir a transcrição. Exemplos disso incluem vários genes lncRNA na vizinhança do gene MYC que inibem ou promovem a transcrição de MYC através do recrutamento de modificadores da cromatina, ou influenciando o loop da cromatina entre as regiões promotoras e potenciadoras. Os lncRNAs também podem afetar a transcrição de genes em outros cromossomos, como exemplificado pelo lncRNA PCAT19, que ativa vários genes envolvidos na promoção do câncer de próstata por meio de sua interação com o complexo de ribonucleoproteína HNRNPAB. 

Alguns lncRNAs, como o lncRNA NEAT1, tem sido associado a vários tipos de câncer através da formação de domínios subnucleares, recrutando certas proteínas para esses locais, ou atuando como estruturas reguladoras de genes multifuncionais, influenciando a transcrição e a pós-regulação transcricional. Outros lncRNAs são exportados para o citoplasma, onde podem interagir com proteínas específicas para afetar as vias de sinalização, modular a tradução de mRNAs específicos ou atuar como esponjas de microRNA. Em muitos casos, os genes afetados são supressores de tumor, mas também oncogenes.  

Por outro lado, evidências recentes demonstram interações complexas entre HIF-1α (fator 1α indutível por hipóxia) e lncRNAs, que por sua vez contribuem para a aquisição de múltiplas interações que podem influenciar o diagnóstico e o prognóstico do câncer, através do controle da expressão gênica pelos lncRNAs.

O HIF-1α é superexpresso em cânceres humanos como resultado de hipóxia intratumoral, bem como alterações genéticas, como mutações de ganho de função em oncogenes (por exemplo, ERBB2) e mutações de perda de função em genes supressores de tumor (por exemplo, VHL e PTEN).  A superexpressão de HIF-1α está associada à falha do tratamento e aumento da mortalidade.

drops rna não codificante longo

*André Murad é diretor científico do Grupo Brasileiro de Oncologia de Precisão (GBOP), diretor clínico da Personal - Oncologia de Precisão e Personalizada, professor adjunto coordenador da Disciplina de Oncologia da Faculdade de Medicina da UFMG, e oncologista e oncogeneticista da CETTRO Oncologia (DF)