Onconews - Isatuximabe mostra significativo benefício de SLP no mieloma múltiplo

O anticorpo monoclonal isatuximabe (Sarclisa®, Sanofi), combinado ao regime carfilzomibe-dexametasona, representa nova opção de tratamento para pacientes com mieloma múltiplo recidivado e/ou refratário.  As evidências de eficácia e segurança embasaram a decisão das principais autoridades reguladoras de aprovar o uso de isatuximabe nessa população de pacientes, com benefícios significativos de sobrevida e taxa de resposta.

A aprovação de isatuximabe pela Anvisa (DOU nº129)1 e outras autoridades regulatórias foi apoiada nos resultados do estudo de Fase III IKEMA2, demonstrando que a adição de isatuximabe ao esquema carfilzomibe-dexametasona aumentou de 1,6 para 3 anos a mediana de sobrevida livre de progressão em pacientes com mieloma múltiplo (MM) recidivado após ≥1 terapia anterior.

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Neste ensaio clínico randomizado de Fase III, com participação de 69 centros em 16 países, foram elegíveis 302 pacientes adultos (≥18 anos) com mieloma múltiplo recidivado ou refratário, com proteína M sérica ou urinária mensurável, previamente expostos a até 3 linhas de tratamento. Os pacientes foram randomizados (3:2) para receber isatuximabe mais carfilzomibe-dexametasona (grupo Isa-Kd; N= 179) ou carfilzomibe-dexametasona (grupo Kd; N=123). Os pacientes do grupo Isa-Kd receberam isatuximabe 10 mg/kg por via intravenosa semanalmente nas primeiras 4 semanas, depois a cada 2 semanas por ciclos de 28 dias em combinação com carfilzomibe duas vezes por semana na dose de 20/56mg/m2 e dexametasona na dose padrão para a duração do tratamento. O tratamento continuou até progressão ou toxicidade inaceitável. O endpoint primário foi sobrevida livre de progressão (SLP) avaliada na população com intenção de tratar. Endpoints secundários incluíram taxa de resposta global, taxa de resposta completa e parcial, taxa de negatividade de doença residual mínima e sobrevida global, além da análise de segurança.

Os dois grupos foram bem equilibrados em termos de idade (mediana de 65 anos no braço Isa-Kd e de 63 anos no braço Kd), assim como foram bem equilibrados considerando função renal, estadiamento ISS e perfil citogenético.

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Em um seguimento mediano de 44 meses, a taxa de reposta completa foi de 44,1% nos pacientes tratados com Isa-Kd versus 28,5% em Kd.  Os pacientes que receberam isatuximabe tiveram mais que o dobro de negatividade na análise de doença residual molecular (30% vs 13%).

Dados atualizados de eficácia e segurança reportados por Moreau et al. confirmam que a adição de isatuximabe ao regime carfilzomibe-dexametasona melhorou a sobrevida livre de progressão (HR 0,58 (IC 95,4% 0,42–0,79), com mediana de 35,7 vs 19,2 meses em favor de Isa-Kd vs Kd nessa população de pacientes. “É a mais longa SLP já observada em estudos que utilizaram como backbone um inibidor de proteassoma”, diz Marcelo Capra, médico hematologista do Hospital Mãe de Deus, em Porto Alegre, que participou do estudo IKEMA. Isatuximabe também prolongou o tempo até segunda progressão (SLP2) (HR 0,68 (IC 95% 0,50-0,94), com mediana de 47,2 vs 35,6 meses em favor de Isa-Kd vs Kd.

As análises de subgrupos pré-especificadas também mostraram benefício da adição de isatuximabe ao esquema Kd, mesmo em pacientes idosos e com insuficiência renal.

Na atualização de Moreau et al. os perfis de segurança em ambos os braços permaneceram consistentes com dados já reportados. Eventos adversos (EAs) graves foram relatados em 70,1% dos pacientes no grupo Isa-Kd vs 59,8% no grupo Kd. Entre os pacientes tratados com Isa-Kd, os EAs de qualquer grau mais comuns foram reação à infusão (45,8%), diarreia (39,5%), hipertensão (37,9%) e infecção do trato respiratório superior (37,3%).

O mieloma múltiplo é o segundo tipo mais comum entre as neoplasias hematológicas, com mais de 130 mil novos diagnósticos anuais em todo o mundo, segundo a Fundação Internacional de Mieloma.

O estudo IKEMA está registrado na plataforma ClinicalTrials.gov: NCT03275285.

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IKEMA: dados mostram 42% de redução de risco de progressão ou de morte
Em vídeo, o hematologista Marcelo Capra discute os resultados do estudo de Fase 3 IKEMA, que embasou a aprovação pela Anvisa de isatuximabe (Sarclisa®, Sanofi) combinado ao regime carfilzomibe-dexametasona em pacientes com mieloma múltiplo recidivado e/ou refratário que receberam pelo menos uma terapia anterior. “Os dados mostram uma redução de risco de progressão ou morte de 42%, uma taxa sem precedentes em um estudo de segunda linha usando um inibidor de proteassoma como backbone. Esse benefício foi consistente em todos os subgrupos, incluindo aqueles com mau prognóstico, como pacientes com insuficiência renal e idosos”, observa Capra. Assista, na TV ONCONEWS.



Referências:

  1. DIÁRIO OFICIAL DA UNIÃO - Publicado em: 11/07/2022 | Edição: 129 | Seção: 1 | Página: 80
  2. Moreau, P., Dimopoulos, M.-A., Mikhael, J., Yong, K., Capra, M., Facon, T., … Kim, K. (2021). Isatuximab, carfilzomib, and dexamethasone in relapsed multiple myeloma (IKEMA): a multicentre, open-label, randomised phase 3 trial. The Lancet, 397(10292), 2361–2371. doi:10.1016/s0140-6736(21)00592-4
  3. Moreau P, Dimopoulos MA, Mikhael J, et al. VP5-2022: Updated progression-free survival (PFS) and depth of response in IKEMA, a randomized phase III trial of isatuximab, carfilzomib and dexamethasone (Isa-Kd) vs Kd in relapsed multiple myeloma (MM).  ESMO Virtual Plenary.May 19-20, 2022. doi:https://doi.org/10.1016/j.annonc.2022.04.013