Pacientes com câncer de pulmão inoperável em estadio inicial que recebem radioterapia estereotáxica (SBRT) têm uma taxa de sobrevida de cinco anos de 40%, de acordo com pesquisa apresentada na 56ª Reunião Anual da Sociedade Americana para Radiação Oncológica (ASTRO).
Essa taxa de sobrevida positiva é encorajadora, considerando que historicamente a radioterapia convencional resultou em controle ruim do tumor para pacientes com câncer de pulmão inoperável. Este estudo é uma atualização do RTOG 0236, originalmente publicado em 2010, que buscou avaliar as taxas de controle do tumor e os efeitos colaterais para os pacientes cinco anos após o tratamento.
O RTOG 0236 foi um ensaio multicêntrico norte-americano de fase II realizado de maio de 2004 até outubro de 2006, com pacientes maiores de 18 anos com câncer de pulmão não-pequenas células em estadio inicial, sem envolvimento de linfonodos ou metástases (T1-T2 N0M0).
Todos os pacientes do estudo tinham condições médicas que impediam o tratamento cirúrgico. Eles receberam SBRT, um tipo de terapia que utiliza feixes externos de radiação. SBRT proporciona elevadas doses de radiação no tumor em uma menor quantidade de tempo de tratamento, em comparação com o padrão de RT, o que reduz a exposição de órgãos saudáveis. Os resultados iniciais do estudo RTOG 02362 sugerem que o SBRT parece melhorar o controle da doença.
Um total de 59 pacientes foi recrutados para o estudo, e 55 foram selecionados (44 pacientes com tumores T1 e 11 pacientes com tumores T2). Os pacientes receberam três frações de 18 Gy (54 Gy total) de SBRT, e o tratamento durou entre uma e duas semanas.
Os pesquisadores avaliaram o controle local, que é a taxa de recorrência do câncer no local de origem, bem como a sobrevida livre de doença, sobrevida global e toxicidade (efeitos colaterais). O acompanhamento médio foi de quatro anos (7,2 anos para pacientes sobreviventes). Em cinco anos, as taxas de sobrevida livre de doença e sobrevida global foram de 26% e 40%, respectivamente, com uma sobrevida global mediana de quatro anos.
Apenas quatro pacientes tiveram recidivas no sítio primário do tumor, resultando em uma taxa de falha em cinco anos de 7% (intervalo de 1,8-4,8 anos após SBRT). Nove pacientes tiveram recorrência dentro do lobo envolvido (intervalo 0,1-5,9 anos após SBRT), resultando em uma taxa de recidiva de 20% em cinco anos no lobo envolvido.
A taxa de falha locorregional em cinco anos foi de 38%, período em que sete pacientes experimentaram uma propagação do câncer para os gânglios linfáticos ou órgãos próximos (variando de 2,8-5,2 anos após SBRT).
Quinze pacientes tiveram recorrência disseminada (por todo o pulmão), assim, a taxa de falha de disseminação em cinco anos foi de 31%. Efeitos secundários de graus 3 e 4 relacionados com o tratamento foram notificados em 15 pacientes e em dois pacientes, respectivamente. Não foram relatados eventos adversos de grau cinco.
"Historicamente, quando o câncer de pulmão em estadio inicial é tratado com radioterapia, a progressão no local do tumor primário foi a falha mais comum, resultando em sofrimento e morte", afirmou o principal autor do estudo Robert Timmerman, professor e vice-presidente do Departamento de Radiação Oncológica na Universidade do Texas Southwestern Medical Center, em Dallas. "Os resultados iniciais do RTOG 0236 mostraram um controle muito bom do tumor; no entanto, muitos médicos estavam preocupados com a toxicidade relacionada com o tratamento, e assim o SBRT não tem sido amplamente utilizado”, disse.
Esta análise de longo prazo confirma que os tumores tratados não reapareceram no local original e não houve toxicidade tardia. No entanto, os tumores metastáticos continuaram a aparecer ao longo do tempo em sítios não tratados.“Estes resultados de cinco anos demonstram controle positivo do tumor e refutam a ideia errada de que o tratamento de curta duração resulta em toxicidades inaceitáveis", finalizou.