Os dados finais do estudo GOG 240, do grupo europeu de oncologia ginecológica (GOG), confirmaram na ESMO os benefícios de incorporar o agente bevacizumabe ao tratamento do câncer cervical. A adição de bevacizumabe conferiu ganhos superiores a 50 meses de sobrevida, como demonstrou Krishnansu Tewari, da Universidade da Califórnia, em sua apresentação na conferência europeia.
O GOG 240 é um ensaio clínico randomizado de fase III que buscou determinar se a adição de bevacizumabe à quimioterapia (topotecano mais paclitaxel) tem impacto na sobrevida global (SG) em mulheres com câncer cervical persistente, recorrente ou metastático.
Os desfechos primários foram sobrevida global e toxicidade. Os desfechos secundários foram sobrevida livre de progressão (SLP) e taxa de resposta.
A análise final mostrou benefícios significativos no braço tratado com bevacizumabe (n= 227) em relação ao grupo tratado com quimioterapia (n= 225) O ganho de SLP foi de 16,8 meses versus 13,3 meses; (HR) 0,765 (p = 0,0068). A vantagem conferida pela incorporação de bevacizumabe se confirma a longo prazo, acima de 50 meses, como evidenciado na separação contínua das curvas de sobrevida.
Sandro Pignata, que discutiu os resultados do estudo, disse que é a primeira vez em vários anos que um medicamento biológico demonstra papel no tratamento da doença, o que confirma a importância da angiogênese no câncer cervical.
Bevacizumabe traz avanços significativos na terapia do câncer cervical metastático, mas a gestão de eventos tóxicos ainda preocupa. Para Pignata, os recursos ainda precisam ser dirigidos com prioridade para o rastreio e prevenção do câncer cervical.
Entre os efeitos adversos com grau > 3 estão tromboembolismo em 8,2% dos pacientes, sangramento em 4,5% e óbito em 3,3% dos pacientes.
Referência: Abstract LBA26
Final Overall Survival Analysis of the Phase III Randomized Trial of Chemotherapy with and without Bevacizumab for Advanced Cervical Cancer: A NRG Oncology - Gynecologic Oncology Group Study
Cediranibe aumenta sobrevida em câncer cervical
Por Sergio Azman
Acrescentar cediranibe à quimioterapia padrão melhora a redução do tumor e adiciona um ganho modesto na sobrevida livre de progressão em câncer cervical que recidivou ou metastatizou após o tratamento. Essa foi a conclusão do estudo de fase II CIRCCa, apresentado na ESMO pelo grupo britânico liderado por Paul Symonds, da Universidade de Leicester, Reino Unido.
Na Europa, cerca de 70% das pacientes com câncer de colo de útero são curadas por meio de cirurgia ou quimio-radioterapia. As pacientes com recorrência ou disseminação secundária têm um prognóstico ruim. Apenas 20% a 30% têm diminuição do tumor após a quimioterapia convencional e a sobrevida geralmente é inferior a um ano.
No estudo de fase II CIRCCa, os pesquisadores compararam dois grupos de pacientes com câncer cervical recorrente ou metastático que receberam quimioterapia convencional com carboplatina e paclitaxel mais cediranibe (34 pacientes) ou placebo (35 pacientes).
"Cânceres do colo do útero com um suprimento de sangue bem desenvolvido podem ter um resultado particularmente ruim. A droga experimental cediranibe bloqueia a superfície celular do receptor de VEGF, que estimula o crescimento de novos vasos sanguíneos para alimentar o crescimento de tumores", explica Symonds, do Departamento de Estudos do Câncer e Medicina Molecular da Universidade de Leicester.
No estudo, os pacientes que receberam cediranibe em adição à quimioterapia tiveram maior diminuição do tumor do que aqueles tratados por quimioterapia mais placebo (66% versus 42%). Houve também um aumento modesto, mas estatisticamente significativo, na mediana da sobrevida livre de progressão (35 contra 30 semanas). Não houve diferença estatisticamente significativa na mediana de sobrevida global.
Em um mês de tratamento, os níveis do receptor de VEGF-2 no sangue ficaram mais propensos à redução no grupo tratado com cediranibe (0,036 versus 0,067).
Os efeitos colaterais, particularmente pressão arterial elevada e diarreia, foram maiores nos pacientes que receberam cediranibe.
Segundo Symonds, o uso de angiogênicos é um caminho promissor para aumentar a eficácia da quimioterapia no câncer de colo do útero. "O câncer de colo do útero recorrente ou metastático é realmente difícil, com uma baixa taxa de resposta e baixa sobrevida. Este estudo abre uma nova via de investigação para um câncer difícil de tratar".
Os pesquisadores conduzem agora uma análise individual dos pacientes para correlacionar a resposta à quimioterapia com a queda nos níveis de receptores VEGF no sangue. Eles também observam outros biomarcadores tumorais que podem ter sido reduzidos com o uso de cediranibe.
Andres Poveda, chefe da Oncologia Clínica do Instituto Valenciano de Oncologia, em Valência, Espanha, que não esteve envolvido na pesquisa, disse que o estudo CIRCCa é a segunda tentativa recente para mostrar o benefício da adição de um droga antiangiogênica à quimioterapia no câncer cervical."O impacto na sobrevida livre de progressão é importante, e outros objetivos do estudo foram alcançados, como a taxa de resposta", afirmou.
Poveda também observou que os últimos anos têm sido positivos para o tratamento de câncer de colo uterino. "Por duas décadas, os avanços no tratamento de pacientes com câncer de colo do útero avançado eram lentos e escassos. Entre 1989 e 2009, modificações de regimes de quimioterapia resultaram em um aumento da taxa de sobrevida de apenas quatro meses”, disse.
O primeiro estudo a incluir uma droga antiangiogênica, bevacizumabe, obteve resultados espetaculares, oferecendo um benefício de sobrevida de quatro meses em um estudo, o equivalente ao obtido ao longo dos últimos 20 anos.
“O FDA aprovou recentemente o uso de bevacizumabe em câncer cervical, pois ele mudou completamente a prática clínica. Estamos agora à espera de resultados de fase III para confirmar as previsões favoráveis deste tratamento com cediranibe", acrescentou.
Referência:Abstract: 25LBA_PR
CIRCCa: A randomised double blind phase II trial of carboplatin-paclitaxel plus cediranib versus carboplatin-paclitaxel plus placebo in metastatic/recurrent cervical cancer. (CRUK Grant Ref: C1256/A11416)