Estudos que podem mudar a prática clínica no tratamento do câncer de pulmão concentraram as atenções na 51ª ASCO, refletindo a evolução das terapias-alvo e os resultados alcançados com a imunoterapia, até os avanços na radiocirurgia estereotáxica, com impacto nos desfechos de sobrevida e qualidade de vida. Quem comenta os destaques de Chicago é o oncologista Mauro Zukin (foto), do grupo COI, que desde 2012 integra o comitê educativo da ASCO em câncer de pulmão.
Este ano, os resultados do estudo de fase III NCCTG N0574 (Alliance) foram destacados em sessão plenária da ASCO. O trabalho apresentado por Jan C. Buckner, da Mayo Clinic, avaliou o papel da radiocirurgia estereotáxica (SBRT) isolada ou associada à radioterapia de cérebro total (WBRT) em pacientes com CPNPC com uma a três metástases cerebrais (Abstract LBA4). Os resultados mostram que a radioterapia de cérebro total (WBRT) após a radiocirurgia estereotáxica (SRS) melhora o controle local da doença, mas não impacta a sobrevida global.
O estudo FLAURA, com o agente AZD 9291, foi outro que concentrou as atenções. Em 2014, ensaio com AZD9291 apresentado na ASCO mostrou resposta significativa e benefício de sobrevida em doentes com mutação de resistência adquirida (T790M) ao tratamento com inibidores de tirosina quinase para EGFR mutado. Este ano, os dados do FLAURA confirmam a superioridade do agente. Os dados mostraram que 81% dos pacientes que receberam AZD 9291 estavam livres de progressão da doença nove meses após o início do tratamento. A taxa de resposta global foi de 73% (95% CI 60% to 84%) e a maior duração de resposta observada foi de 13,8 meses.
No cenário do CPNPC não escamoso, o ensaio PROCLAIM (Abstract 7506), não trouxe grandes novidades. O estudo avaliou a incorporação de pemetrexede (alimta®) + cisplatina versus etoposid + cisplatina combinado à radioterapia em pacientes com doença localmente avançada, não elegíveis ao tratamento cirúrgico. “O estudo randomizado de fase II já tinha sido apresentado em 2009 sem muitas vantagens. O fase III demonstra um perfil de toxicidade mais favorável, mas como ja era esperado também não mostra ganho de sobrevida global, com mediana de 26,8 meses versus 25,0 meses (HR 0.98; 95% CI: 0.79, 1.20; p = 0.831)”.
Imunoterapia
A imunoterapia é outro avanço que ressurge no tratamento de câncer de pulmão, depois de anos de ceticismo.
O estudo Checkmate-017 já havia comunicado seus resultados. O ensaio investigou nivolumab (Opdivo®) em comparação com docetaxel (Taxotere®) em doentes com câncer de pulmão de células escamosas, pós falha à platina. Nivolumab promoveu um ganho de três meses na sobrevida global, em comparação com a quimioterapia, com menor toxicidade (LBA 109). “Os dados indicam claramente que a imunoterapia é superior ao Taxotere® pós falha a platina, tanto de uma perspectiva de eficácia quanto de toxicidade. Nivolumab é uma nova opção de tratamento em segunda linha pós falha à platina em carcinoma escamoso”, diz Mauro Zukin.
O estudo POPLAR com o inibidor de PD-L1 MPDL3280A foi desenhado para investigar a superioridade frente ao docetaxel ( Abstr 8010). “O POPLAR é um estudo de fase II que incluiu 287 pacientes com CPCNP avançado previamente tratados. O desfecho primário foi a sobrevida global; os desfechos secundários incluíram sobrevida livre de progressão, taxa de resposta global (TRG) e segurança. Os pacientes foram estratificados por expressão de PD-L1 em células imunes infiltradas no tumor, histologia e linhas anteriores de tratamento.
O estudo mostrou que a imunoterapia experimental MPDL3280A dobrou a mediana de sobrevida na comparação com docetaxel em pacientes com expressão PD-L1, mas pacientes sem expressão PD-L1 também se beneficiaram
Zukin esclarece que a expressão de PD-L1 é certamente um marcador prognóstico importante. No entanto, ele lembra que pacientes com PD-L1 negativo também respondem e apresentam benefícios clinicamente significativos de sobrevida em comparação com a quimioterapia. “Existem outras questões, como a heterogeneidade tumoral e ainda temos que avançar na validação desta ferramenta”, conclui.
Em tumores não escamosos, nivolumab também apresentou resultados surpreendentes na segunda linha, em comparação com docetaxel. Os dados do ensaio Checkmate 057, apresentados por Luiz Paz-Ares e colegas, devem impactar a prática clínica, demonstrando ganhos de sobrevida global e respostas prolongadas.
O câncer de pulmão é o número um em mortalidade por câncer no mundo e o segundo tumor mais frequente no Brasil, com 27 mil novos casos em 2015, de acordo com as estimativas do INCA. Dados do Globocan apontam aumento de 2% ao ano na incidência mundial e mostram que apesar do declínio na mortalidade entre os homens, a taxa de mortalidade aumenta entre as mulheres. O cigarro continua como o grande vilão e 85% dos casos estão diretamente associados à exposição prolongada ao tabaco e seus derivados.
Leia Mais: Metástases cerebrais: WBRT + SRS não aumenta sobrevida
Imunoterapia em câncer de pulmão
Nivolumab aumenta sobrevida em câncer de pulmão