Onconews - Estatinas no câncer de próstata hormônio-sensível

Fernando_Cotait_Maluf_NET_OK.jpgO uso da estatina tem sido associado a uma diminuição do risco de recorrência após a terapia local e a um menor risco de mortalidade por câncer de próstata. Lauren Christine Harshman, do Dana-Farber Cancer Institute, apresentou estudo no 2015 Genitourinary Cancers Symposium avaliando a associação entre o uso de estatinas e a progressão do câncer de próstata entre os homens recém-iniciados na terapia de deprivação androgênica (ADT, da sigla em inglês). O oncologista Fernando Maluf (foto) comenta o estudo para o Onconews.

Os pesquisadores avaliaram a base de dados da instituição (Prostate CRIS), que captura informações clínico-demográficas, detalhes do tratamento e os resultados clínicos de pacientes com câncer de próstata, para identificar aqueles tratados com ADT que evoluíram para recorrência bioquímica ou doença metastática. Dados sobre a data de progressão e o uso de estatina no início da ADT foram coletados através de uma revisão de prontuários médicos.

A progressão foi definida como aumento do PSA em três dosagens séricas e a data de progressão foi definida como a data da primeira elevação.

A associação entre o uso de estatinas e o tempo de progressão em vigência de terapia de deprivação androgênica foi estimada a partir de regressão de Cox multivariada, ajustada para fatores prognósticos conhecidos: escala Gleason, tipo de terapia primária, estado metastático, e PSA no início da ADT.

Resultados

Dos 926 pacientes elegíveis para análise, 283 (31%) estavam tomando uma estatina no início da terapia de deprivação androgênica. Usuários de estatina eram menos propensos a ter doença M1 (11% versus 18%) ou N1 (5% versus 10%) no momento do diagnóstico, assim como apresentaram tendência a maior número de casos tratados com radioterapia local +/- ADT em comparação com os não-usuários. Eles também eram menos propensos a ter metástases no início da terapia de deprivação androgênica (53% vs 63%). As medianas do PSA no momento do diagnóstico e no início da ADT foram menores entre os usuários de estatina.

Depois de um período de acompanhamento médio de 5,8 anos, 644 pacientes (70%) tinham progredido na vigência de ADT e a mediana de tempo de progressão em ADT foi de 20,3 meses (95% CI: 18,24). Homens que utilizaram estatinas tiveram uma mediana maior de tempo de progressão em comparação com os não usuários (27,5 vs 17,4 meses). A associação manteve-se estatisticamente significativa após o ajuste para os fatores prognósticos conhecidos [HR ajustado=0,83 (p = 0,039)].

Os pesquisadores concluíram que nessa coorte, o uso de estatinas no momento da iniciação da terapia de deprivação androgênica foi associado com um aumento significativo no tempo de progressão em ADT, mesmo após o ajuste para fatores prognósticos estabelecidos. Futuras investigações estão planejadas para estudar os mecanismos por trás dessa observação.

“Vários mecanismos são associados a um possível benefício da estatinas nos tumores de forma geral, incluindo o câncer de próstata. Estes benefícios em estudos preliminares refletem a influência das estatinas no metabolismo lipídico, causando inibição da esteroidogênese, inflamação e proliferação celular”, esclarece o oncologista Fernando Maluf, do Centro Oncológico Antonio Ermírio de Moraes. “Este estudo retrospectivo gera a hipótese do efeito protetor das estatinas no câncer de próstata, incluindo tanto a diminuição das chances de doença avançada ao diagnóstico, quanto o retardo na progressão da doença durante o tratamento de deprivação androgênica. Estes dados, em conjunto com outros dados retrospectivos, demandam o início de um estudo randomizado em pacientes com câncer de próstata localizado, ou até mesmo avançado, para elucidar de modo definitivo o papel das estatinas neste cenário”, conclui.
 
Referência: Abstract 148 - Statin use at the time of initiation of androgen deprivation therapy (ADT) and time to progression (TTP) in patients with hormone-sensitive prostate cancer.