No 2015 Genitourinary Cancers Symposium, Gwenaelle Gravis, do Institut Paoli-Calmettes, em Marseille, França, apresentou uma análise atualizada com dados de sobrevida global (SG) do estudo de fase III GETUG 15 e concluiu que a adição de docetaxel à terapia de deprivação de androgênio não melhorou significativamente a sobrevida global em pacientes com câncer de próstata, com maior tempo de seguimento.O uro-oncologista Gustavo Franco Carvalhal (foto), comenta com exclusividade para o Onconews.
A terapia de deprivação de androgênio (ADT, da sigla em inglês) é o tratamento padrão para câncer de próstata metastático sem tratamento hormonal anterior. Recentemente, o estudo E3805 reportou um benefício de sobrevida com esquemas de ADT + docetaxel em pacientes com alto volume de doença, enquanto o estudo GETUG-15 não demonstrou uma melhora da sobrevida entre um grupo selecionado de pacientes com câncer de próstata metastático sem tratamento hormonal anterior. Agora, os pesquisadores franceses mostraram na ASCO GU os dados de longo prazo.
Segundo Gustavo Franco Carvalhal, do Hospital Moinhos de Vento, em Porto Alegre, o GETUG-AFU 15 foi um dos estudos mais comentados no encontro deste ano. O estudo europeu avaliou de forma prospectiva e randomizada a realização de docetaxel em conjunto com terapia de deprivação androgênica versus terapia de deprivação androgênica isolada em pacientes com câncer de próstata metastático. “A expectativa era de que fossem reproduzidos os resultados do estudo americano CHAARTED, apresentado na última ASCO, que mostrou benefício importante de sobrevida (13 meses; 17 meses para doença de alto volume) para o braço que recebeu docetaxel + terapia de deprivação hormonal. Os achados do GETUG-AFU 15 foram negativos neste aspecto”, afirma.
Para o especialista, apesar do estudo apresentar um seguimento adequado (cerca de 50 meses), cabe considerar que houve um benefício não estatisticamente significativo de 4 meses de sobrevida para o grupo de doença de maior volume para o braço de docetaxel e terapia de deprivação hormonal.
Métodos e resultados
A sobrevida global de longo prazo foi analisada por intenção de tratar (n=385 pacientes). O estudo também avaliou retrospectivamente o volume do tumor, tal como definido pelos critérios E3805em todos os pacientes inscritos no GETUG 15.
Com um período de acompanhamento médio de 82,9 meses (95% CI [80,5-84,3]) versus 50 meses na análise original(95% CI [80,5-84,3]), 212 pacientes (55%) morreram. A mediana de sobrevida global foi de 46,5 meses [39,1-60,6] e 60,9 meses [46,1-71,4] nos braços ADT e ADT + docetaxel, respectivamente (HR: 0,9 [95% CI: 0,7-1,2]).
Em pacientes com doença de alto volume (n=183, 47,5%), as taxas médias de sobrevida global foram de 35,1 meses [29,9-44,2] no braço ADT isolado e de 39 meses [28-52,6] no braço ADT + docetaxel (HR: 0,8 [0,6-1,2]).
Em conclusão, os pesquisadores observaram que com maior tempo de seguimento, a adição de docetaxelà terapia de privação de androgênio não melhorou significativamente a sobrevida global em pacientes com câncer de próstata metastático sem tratamento hormonal prévio. Na análise retrospectiva, utilizando definição do volume de metástase alinhados com E3805, os resultados para a doença de alto volume foram semelhantes ao E3805 para ADT isolado e houve um aumento não-significativo de 4 meses na sobrevida global com ADT + docetaxelneste subgrupo.
Para Carvalhal, o problema do estudo é que havia menos pacientes e uma proporção menor destes apresentavam doença metastática de alto volume em comparação com o CHAARTED. “A impressão que ficou da apresentação é a de que se houvesse um N maior ou uma maior proporção de pacientes com doença de alto volume, o estudo seria positivo. Desta forma, acredito que persiste a tendência atual de oferecer terapia de deprivação hormonal em combinação com quimioterapia com 6 ciclos de docetaxel a pacientes metastáticos com doença de alto volume e alto risco de progressão”, finaliza.
Informações do ensaio clínico: 00104715.
Referência: Abstract No: 140 –Androgen deprivation therapy (ADT) plus docetaxel (D) versus ADT alone for hormone-naïve metastatic prostate cancer (PCa): Long-term analysis of the GETUG-AFU 15 phase III trial.