Grandes estudos concentraram as atenções na 57ª ASH, o maior encontro da hematologia mundial, realizado de 5 a 8 de dezembro, em Orlando, EUA. Angelo Maiolino (foto) comenta o que foi destaque no tratamento do Mieloma Múltiplo. O especialista lembra que nas semanas que antecederam o ASH, três novas drogas foram aprovadas pelo FDA para o tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário.
Uma delas é o inibidor de proteassoma ixazomib, que obteve registro da agência americana, ao lado dos anticorpos daratumumab e elotuzumab. Não por acaso, estudos envolvendo esses três novos agentes estiveram entre os highlights da edição deste ano.
A 57ª ASH trouxe em apresentação oral os resultados do TOURMALINE-MM11, que avaliou o novo inibidor de proteassoma oral ixazomib em regime de combinação com lenalidomida e dexametasona no MM refratário ou recorrente. Os dados do TOURMALINE-MM1 foram apresentados por Philippe Moreau, chefe do departamento de Hematologia do Hospital de Nantes, na França.
“Um protocolo de estudo levou o FDA à decisão de recomendar sua aprovação em regime de fast tracking para o tratamento do mieloma múltiplo recidivado ou refratário. Agora, mostra os resultados de um follow up mais prolongado”, explicou. “Mais uma vez os dados do TOURMALINE-MM1 corroboram as evidências já conhecidas, confirmando o perfil de eficácia e segurança”.
Outro destaque foram os estudos com daratumumab, anticorpo que conquistou a aprovação da agência americana com base no ensaio de fase 2 SIRIUS (MMY2002). No ASH 2015, o daratumumab mostrou resultados de longo prazo, em diferentes esquemas de combinação2,3.
“É um anti CD-38 e o mais surpreendente é que funcionou não apenas em regimes de combinação, mas também em monoterapia. “É a primeira vez que isso acontece com um agente dessa geração de novíssimas drogas”, diz Maiolino.
O daratumumab é aprovado para pacientes politratados e depois das novidades anunciadas na ASH 2015 alimenta agora expectativas com o recém iniciado ensaio ALCYONE. O estudo tem participação brasileira e investiga daratumumab em primeira linha, em pacientes não candidatos ao transplante. O estudo vai comparar daratumumab, melfalano, bortezomib e predinisona contra melfalano, predinisona e bortezomib.
Outro anticorpo que mostrou dados atualizados na ASH 2015 foi o elotuzumab, aprovado pelo FDA a partir do estudo ELOQUENT. “Elotuzumabe confirmou vantagens na combinação com lenalidomida e dexametazona para pacientes de MM recidivado. O estudo mostrou benefícios tanto em termos de sobrevida livre de progressão, como de sobrevida global”.
A grande dificuldade é que enquanto a agência norte-americana anuncia três novas aprovações recentes, o Brasil ainda vive aqui um cenário de limitações.
O FDA já havia aprovado anteriormente o carfilzomib, outro inibidor de proteassoma que mostrou resultados importantes. “O esquema carfilzomibe e dexametasona se mostrou superior na comparação com velcade e dexametasona. “Os dados do Endeavour4, publicados no Lancet em 2015, mostram o dobro de sobrevida livre de progressão em pacientes já expostos ao bortezomib, mas o carfilzomib também não está disponível no nosso meio”, esclareceu. “Além disso, temos restrições quanto aos imunomoduladores, porque até hoje só temos mesmo a talidomida”.
Diante disso, pacientes brasileiros ficaram de fora dos estudos TOURMALINNE e ELOQUENT-2. “Ficamos fora do trial, o que é ruim, mas muito pior é que nossos pacientes ficam sem acesso a tratamentos mais modernos e mais efetivos. É uma limitação muito importante. São pelo menos oito novas drogas aprovadas nos últimos tempos e não temos nenhuma delas no Brasil”, lamentou Maiolino.
Momento de expectativa
“Acredito que carfilzomib, lenalidomida e daratumumab devem ser aprovados, porque não vai existir qualquer argumento possível da agência reguladora para uma decisão diferente. Os dados são robustos e se mostraram significativamente superiores aos braços de comparação, em um cenário que configura uma necessidade médica não atendida. Estou confiante de que a Anvisa vai aprovar esses três novos agentes”, sinalizou.
Transplante em primeira linha
Alguns estudos com transplante também fizeram parte dos highlights da ASH 2015, confirmando o papel do TMO na primeira linha. É o caso do trabalho5 liderado por Michel Attal, do Institut Universitaire du Cancer de Toulouse-Oncopole, que avaliou mais de mil pacientes. O estudo comparou bortezomibe, revlimid e dexametasona + transplante contra oito ciclos de bortezomibe, seguido do transplante na recaída. “O transplante feito no up front permanece e mostrou uma vantagem muito significativa em termos de sobrevida livre de progressão. É um estudo de extrema importância e precisa ser ressaltado. Não é só olhar as novíssimas drogas, mas lembrar que o transplante permanece como importante estratégia de tratamento. Postergar o transplante não é correto e já há estudos mostrando isso”, conclui Maiolino.
2 - 507 Daratumumab in Combination with Lenalidomide and Dexamethasone in Patients with Relapsed or Relapsed and Refractory Multiple Myeloma (RRMM): Updated Results of a Phase I/II Study (GEN503) [507]
3 - 508 Open-Label, Multicenter, Phase 1b Study of Daratumumab in Combination with Pomalidomide and Dexamethasone in Patients with at Least 2 Lines of Prior Therapy and Relapsed or Relapsed and Refractory Multiple Myeloma
4 - Carfilzomib and dexamethasone versus bortezomib and dexamethasone for patients with relapsed or refractory multiple myeloma (ENDEAVOR): a randomised, phase 3, open-label, multicentre study
5 - 391 Autologous Transplantation for Multiple Myeloma in the Era of New Drugs: A Phase III Study of the Intergroupe Francophone Du Myelome (IFM/DFCI 2009 Trial)