A incidência de câncer colorretal (CCR) entre pacientes jovens tem aumentado. Embora alguns dos novos casos possam ser explicados por fatores hereditários, a maioria surge espontaneamente. Agora, os investigadores descobriram que os tumores de câncer colorretal em pacientes mais jovens podem ser molecularmente distintos daqueles encontradas nos doentes mais idosos, e que estas diferenças estão relacionadas à maneira que os genes são ligados e desligados (epigenética) nos tumores. Tal descoberta pode levar a melhores opções de tratamento, específicas para esse grupo.
Andrea Cercek, Assistente-médica no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, e professora-assistente de medicina no Weill Cornell Medical Center em Nova Iorque, apresentou durante o Congresso Europeu de Câncer (ECC2015) a análise de mutações genéticas de tumores de 126 pacientes com idade inferior a 50 anos, e 368 pacientes com 50 anos ou mais. "Curiosamente, encontramos uma frequência diferente da mutação de genes conhecidos por causar o câncer em diferentes grupos etários", afirmou.
O câncer colorretal em pacientes jovens têm aumentado a uma taxa contínua de 1,5% ao ano em homens e 1,6% ao ano em mulheres durante o período de 1992-2011, de acordo com dados do Surveillance, Epidemiology, and End Result Registries (SEER) do US National Cancer Institute. É o terceiro tipo de câncer mais comum no mundo, com cerca de 1,4 milhão de novos casos diagnosticados em 2012.
Métodos e resultados
Os tumores dos dois grupos de pacientes com CCR foram analisados. O primeiro grupo incluiu pacientes tratados no Memorial Sloan Kettering, e o segundo grupo foi composto por pacientes do Cancer Genome Atlas, projeto que visa catalogar mutações genéticas causadoras de câncer, administrado pelo US National Cancer Institute. Foram utilizadas técnicas de sequenciamento genético para procurar mutações genéticas e outras alterações do DNA que afetam o comportamento dos genes (processos conhecidos como expressão do gene e metilação) [1]. Os pacientes com um número muito grande de mutações ou nos quais as proteínas que controlam erros de replicação do DNA não funcionavam corretamente (instabilidade de microssatélites) foram excluídos.
"No grupo de jovens, descobrimos que 154 genes apresentavam alterações na metilação. Tanto a hipometilação como a hipermetilação são encontradas no câncer”, explica Cercek. "Também descobrimos que o aumento da metilação andava de mãos dadas com o aumento da idade entre os pacientes mais jovens, e que esta intensificação foi além do que poderia ocorrer naturalmente no tecido normal. Encontrar tal distintivo molecular neste grupo nos encoraja a acreditar que podemos, no futuro, ser capazes de adaptar tratamentos específicos e tentar impedir ou retardar estes processos, a fim de melhorar os resultados", acrescentou.
Os pacientes mais jovens tendem a ser diagnosticados com a doença mais avançada e difícil de tratar. Isto provavelmente é fruto da falta de conhecimento dos sintomas, bem como reflete a tendência dos médicos de atribuir esses sintomas a outras causas.
"As mudanças nos hábitos intestinais pode ser atribuída à doença de Crohn, alergias alimentares ou simplesmente stress, por exemplo, e os médicos encaminham os pacientes mais jovens para o rastreamento do câncer colorretal com muito menos frequência do que fazem com os mais velhos", diz Cercek. "Acredito que a sensibilização dos médicos sobre o aumento da frequência de CCR nos jovens é muito importante", ressaltou.
Pacientes de câncer colorretal mais jovens tendem a ser tratados de forma mais agressiva, embora atualmente não haja nenhuma outra diferença nas terapias utilizadas. "É por isso que nossas descobertas são importantes", afirmou o pesquisador. "Esperamos ser capazes de continuar os estudos sobre a caracterização molecular e epigenética de tumores de pacientes com início do câncer colorretal em idades mais jovens, para desenvolver melhores terapias e trazer benefícios de sobrevida global e qualidade de vida."
Abstract no 2189. “Early onset colorectal cancer – does the difference lie in epigenetics?”
[1] Methyl is a naturally occurring combination of hydrocarbons, and methylation, a process where methyl groups are added to DNA and modify its function, plays a role in many biological processes.