Estimativas apresentadas na sessão presidencial do Congresso Europeu de Câncer 2015 (ECC2015), em Viena, Áustria, indicam que até 2035 mais de 12 milhões de pacientes de câncer poderiam se beneficiar da radioterapia. Apesar disso, o acesso mundial à radioterapia é inaceitavelmente baixo - apenas 40% a 60% dos pacientes com câncer conseguem receber o tratamento. Os resultados estão entre os destaques do congresso europeu e foram publicados simultaneamente no The Lancet Oncology, (vol. 16, nº 10).
Para diminuir o impacto desse vazio de assistência, seis metas a serem cumpridas até 2020 e 2025 devem impulsionar a expansão da radioterapia e foram anunciadas na ESMO 2015. Em 2020, o objetivo é que 80% dos países tenham planos abrangentes de tratamento do câncer que incluam a radioterapia; que cada país de baixa e média renda crie um novo centro de tratamento e treinamento; e que 80% desses países incluam serviços de radioterapia em seus planos de cobertura universal da saúde.
Para 2025, a proposta é aumentar em 25% a capacidade de tratamento de radioterapia; treinar 7,5 mil radio-oncologistas, 20 mil radiologistas e 6 mil físicos médicos em países de baixa e média renda; e o levantamento de investimentos iniciais de US$ 46 bilhões para estabelecer infraestrutura de radioterapia e treinamento em países periféricos, com a ajuda de bancos internacionais e do setor privado.
A radioterapia é essencial para a cura e tratamento paliativo da maioria dos tipos de câncer, incluindo mama, pulmão, próstata, cabeça e pescoço e colo do útero. Até 60% de todos os pacientes com câncer irão necessitar de radioterapia em algum momento do tratamento. No entanto, a radioterapia tem sido negligenciada como uma necessidade crítica para a saúde e muitas vezes é o último recurso a ser considerado no planejamento de controle do câncer. O subinvestimento já resultou em milhões de mortes desnecessárias.
Mesmo em países de alta renda, como Canadá, Austrália e Reino Unido, o número de instalações de radioterapia, equipamentos e pessoal treinado são inadequados. O cenário é pior em países de baixa renda, onde nove em cada 10 pessoas não têm acesso ao tratamento. O déficit é especialmente grave na África, onde na maioria dos países o tratamento de radioterapia é praticamente inexistente, sendo que 40 países não possuem instalações radioterápicas.
Apesar da enormidade do problema, os autores defendem que o tratamento é altamente custo–efetivo e que os valores são mais baixos quando comparados com o preço elevado dos novos medicamentos contra o câncer. "Há um equívoco generalizado de que os custos da radioterapia estão ao alcance apenas de países ricos. Nada poderia estar mais longe da verdade", afirmou o autor da Comissão, Rifat Atun, da Harvard School of Public Health, Universidade de Harvard, Boston, Estados Unidos. "Nosso trabalho mostra claramente que este serviço essencial não só pode ser implantado com segurança e alta qualidade em países de baixa e média renda, mas que o escalonamento da capacidade da radioterapia é um investimento viável e altamente rentável", afirmou.
A Comissão mostrou que o acesso à radioterapia pode ser escalonado até níveis aceitáveis em todos os países de baixa e média renda em 2035 com um investimento de US$ 184 bilhões, ou com melhorias de eficiência a um custo de US$ 97 bilhões. Este custo, dizem os autores, seria largamente compensado pelas 27 milhões de vidas salvas por ano nesses países. O investimento também poderia trazer benefícios econômicos substanciais, que variam de US$ 278 bilhões a US$ 365 bilhões nos próximos 20 anos.
"Chegou o momento de aprovar e implementar ações imediatas para combater o déficit global em serviços de radioterapia e a crise de acesso a este tratamento altamente eficaz", disse Atun.
Foram propostas seis principais metas a serem cumpridas até 2020 e 2025. Em 2020, o objetivo é que 80% dos países tenham planos abrangentes de tratamento do câncer que incluam a radioterapia; que cada país de baixa e média renda crie um novo centro de tratamento e treinamento; e que 80% desses países incluam serviços de radioterapia em seus planos de cobertura universal da saúde. Para 2025, a proposta é aumentar em 25% a capacidade de tratamento de radioterapia; treinar 7,5 mil radio-oncologistas, 20 mil radiologistas e 6 mil físicos médicos em países de baixa e média renda; e o levantamento de investimentos iniciais de US$ 46 bilhões para estabelecer infraestrutura de radioterapia e treinamento em países periféricos, com a ajuda de bancos internacionais e do setor privado.
De acordo com a co-presidente da UICC Global Task Force on Radiotherapy for Cancer Control, Mary Gospodarowicz, as evidências reforçam a necessidade de investir em radioterapia como um componente essencial da luta contra o câncer. “A construção da capacidade de radioterapia vai exigir grande investimento inicial. No entanto, o tratamento é mais rentável do que a quimioterapia e cirurgia, e os benefícios de saúde e econômicos poderão ser observados em apenas 10 a 15 anos”, afirmou.
Referências: LBA2: Presidential session 1, Saturday
http://www.thelancet.com/journals/lanonc/article/PIIS1470-2045(15)00222-3/abstract