Anelisa Coutinho (foto), oncologista da clínica AMO e vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG), fala no segundo dia do encontro sobre os avanços e desafios da terapia adjuvante no câncer retal.
Há algum tempo, o tratamento do câncer do reto não metastático era iniciado com cirurgia, geralmente seguido de radioterapia e quimioterapia (RTQT) adjuvantes. Porém, há pouco mais de 10 anos, o grupo alemão CAO/ARO/AIO mostrou benefícios em começar a tratar estes pacientes com doença localmente avançada com RTQT neoadjuvante, seguido então de cirurgia e quimioterapia (QT) adjuvante. Essa estratégia tornou-se padrão e os principais benefícios da neoadjuvância são maior índice de preservação esfincteriana, redução de recidiva local e melhor tolerabilidade do tratamento RTQT quando feito no pré-operatório.
O desafio atual é estratificar da melhor forma os pacientes que precisam de adjuvância após a neoadjuvância e cirurgia. Habitualmente utiliza-se muito dos dados conhecidos para indicação de adjuvância em cólon, entretanto os estudos desenhados para definir adjuvância em reto são muito mais conflitantes. Os estudos Proctor/Script e o UK Chronicle por exemplo, que foram desenhados para avaliar o benefício da adjuvância (após RTQT e cirurgia), não alcançaram poder estatístico por baixa inclusão de pacientes.
Em 2014, o estudo coreano de fase II randomizado, intitulado ADORE , avaliou o benefício do tratamento adjuvante com 5-Fluorouracil + Leucovorin +/- Oxaliplatina, em um grupo de 321 pacientes estádio ypT3-4 ou ypN+ após a neadjuvância tradicional. O ADORE demonstrou beneficio da adição de oxaliplatina adjuvante neste subgrupo de pacientes de alto risco.
Algumas questões como: benefício questionável da adjuvância nos subgrupos com resposta completa patológica após neoadjuvância e nos ypN0 de melhor prognóstico ainda permanecem em aberto. Estratégias de incorporar quimioterapia de “indução” antes ou após a RTQT pré- cirurgia estão sendo investigadas. Certamente que o futuro próximo com a estratificação de subgrupos moleculares e a provável incorporação da análise de células tumorais em DNA circulante através de biopsia líquida contribuirão para uma melhor estratificação de pacientes de risco , com indicação real de tratamento adjuvante.
Autora: Anelisa K. Coutinho é oncologista da clínica AMO, em Salvador, Bahia, e vice-presidente do Grupo Brasileiro de Tumores Gastrointestinais (GTG).
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