Entre as mulheres inscritas no International Breast Cancer Intervention Study I (IBIS-I), aquelas que apresentavam sintomas da menopausa como náuseas, vômitos e dores de cabeça, eram significativamente menos propensas a aderir ao tratamento com tamoxifeno. Os dados foram apresentados no 2016 San Antonio Breast Cancer Symposium.
O IBIS-I é um estudo randomizado, placebo-controlado, concebido para investigar se cinco anos de tamoxifeno poderia prevenir o câncer de mama em mulheres com risco aumentado de desenvolver a doença.
"Dados do IBIS-1 e outros ensaios indicam que cinco anos de tratamento com tamoxifeno reduz o risco de câncer de mama em pelo menos 30% para as mulheres com maior risco para a doença, e que este efeito parece durar por pelo menos 20 anos", disse Samuel G. Smith, do Cancer Research UK e fellow da Universidade de Leeds, no Reino Unido.
Smith e colegas investigaram o efeito dos sintomas da menopausa sobre a adesão ao tratamento entre 3.987 mulheres inscritas no IBIS-I. Destas, 2 mil foram atribuídas a placebo e 1.987 ao tamoxifeno. Todas as análises foram ajustadas para idade, risco de Tyrer-Cuzick, tabagismo, uso de terapia de reposição hormonal, status menopausal, sintomas no baseline e tratamento.
No geral, 66,8% das mulheres aderiram ao tratamento por pelo menos 4,5 anos (placebo: 71,5% vs tamoxifeno: 62,1%, p <0,001). As maiores taxas de abandono foram encontradas nos primeiros 12 meses de seguimento, e uma diferença significativa na adesão entre os braços de tratamento foi observada posteriormente (p <0,05).
"Isso indica que as mulheres podem estar atribuindo sintomas da menopausa que ocorrem naturalmente como sendo causados pela medicação que estão utilizando. A maior taxa de abandono nos primeiros meses do ensaio sugere que a intervenção precoce pode ser uma forma eficaz de promover a adesão a longo prazo", afirmou Smith.
Um baixo número de mulheres apresentou náuseas/vômitos (5%) e dores de cabeça (7%), enquanto proporções mais altas relataram sintomas ginecológicos (sangramento irregular/secura vaginal/corrimento vaginal, 13,8%) e fogachos (31,5%). As mulheres que relataram náuseas/vômitos (OR = 1,82 [95% CI, 1,35-2,47], p <0,001) e cefaleias (OR = 1,41 [1,08-1,84], p = 0,01) foram significativamente mais propensas a não aderir à medicação em 4,5 anos.
As dores de cabeça foram associadas à não adesão no grupo placebo (OR=1,70 [1,16-2,50], p=0,006), enquanto os sintomas ginecológicos foram apenas significativos no braço de tamoxifeno (OR=1,30 [1,05-1,63], p=0,02). A maioria dos efeitos colaterais foi de gravidade leve ou moderada e foi observada tendência significativa para menor aderência com aumento da severidade para todos os sintomas (p <0,05 a <0,001).
"Nossas descobertas têm implicações sobre a comunicação dos médicos com as mulheres que estão considerando iniciar a terapia preventiva do câncer de mama", disse Smith. "É necessário gerenciar as expectativas e fornecer informações realistas e precisas sobre a probabilidade de experimentar efeitos colaterais, além de oferecer intervenções para apoiar a gestão dos sintomas da menopausa e para promover a adesão", afirmou.
O estudo foi financiado pela Cancer Research UK.
Referência: Abstract S5-03 - Menopausal symptoms as predictors of long-term adherence in the International breast cancer intervention study (IBIS-1)