Onconews - Intervenção psicológica alivia distress em pacientes com câncer avançado

distress_NET_OK.jpgOs achados de um ensaio clínico randomizado (LBA10001) com 305 pacientes com câncer avançado sugerem que uma breve intervenção psicológica, denominada Managing Cancer And Living Meaningfully (CALM), poderia ajudar a preencher a lacuna de abordagens sistemáticas para ajudar os pacientes e suas famílias a gerenciar o impacto prático e emocional do câncer avançado. Os resultados do estudo foram apresentados na ASCO 2017, em Chicago.

 

O estudo mostrou que aos três meses, 52% dos pacientes que receberam CALM apresentaram uma redução clinicamente importante nos sintomas depressivos, em comparação com 33% dos pacientes que receberam cuidados habituais. Os pacientes que receberam CALM também tiveram melhorias no bem-estar psicológico aos três e seis meses e estavam mais preparados para o fim da vida.
 
"Um diagnóstico de câncer avançado pode ser devastador para pacientes e suas famílias, e este estudo oferece uma nova abordagem para ajudar a lidar com a questão. Como oncologistas, nosso trabalho não é apenas tratar os sintomas físicos de nossos pacientes. É também conectá-los com outras formas de apoio para ajudá-los a lidar com a doença e planejar o futuro", afirmou Don S. Dizon, ASCO expert.
 
CALM é uma intervenção psicológica desenvolvida especificamente para pacientes com câncer avançado. Consiste em três a seis sessões de 45 a 60 minutos realizadas em três a seis meses por profissionais de saúde treinados, como assistentes sociais, psiquiatras, psicólogos, médicos e enfermeiros de cuidados paliativos e oncologistas. Os membros da família ou parceiros são convidados a participar das sessões, que se concentram em quatro grandes domínios: controle de sintomas, tomada de decisão médica e relacionamentos com profissionais de saúde; mudanças no autoconceito e nas relações pessoais; bem-estar espiritual e senso de significado e propósito na vida; e preocupações, esperança e mortalidade orientadas para o futuro
 
"CALM é diferente de outras intervenções pois busca ajudar os pacientes a viver com doenças avançadas, em vez de apenas prepará-los para o fim da vida. É focada nas preocupações práticas e existenciais enfrentadas por aqueles com câncer avançado", afirmou Gary Rodin, principal autor do estudo e chefe do Departamento de Cuidados de Apoio no Princess Margaret Cancer Center em Toronto, Canadá Rodin.
 
O estudo
 
Os pesquisadores randomizaram 305 pacientes com câncer avançado, recrutados em um centro de câncer no Canadá . Os participantes foram randomizados aleatoriamente para terapia CALM mais cuidados habituais (n=151) ou para cuidados habituais isolados (grupo controle; n=154). A concordância com a intervenção foi de 77,5% e o atrito foi de 28% (16% morreram, 8% se perderam durante o seguimento, 4% se retiraram).
 
Os participantes no grupo de controle receberam tratamento e acompanhamento oncológico de rotina, bem como um rastreio clínico de distress. Cerca de um terço dos pacientes do grupo de controle receberam algum atendimento especializado em oncologia psicossocial, mas menos de 10% receberam psicoterapia estruturada ou semi-estruturada.
 
Os pesquisadores mediram sintomas depressivos (usando o Questionário de Saúde do Paciente-9) e outros resultados na entrada no estudo (baseline) e aos três meses (endpoint primário) e seis meses (endpoint do estudo).
 
Resultados
 
Em comparação com os pacientes do grupo de cuidados habituais, os pacientes no grupo de intervenção CALM relataram sintomas depressivos menos graves aos três meses (ΔM1-M2 = 1,09, p <0,04; Cohen’s d = 0.23). A diferença entre os dois grupos foi ainda mais acentuada aos seis meses (ΔM1-M2 = 1,33, p <0,01; Cohen’s d = 0.29).
 
Em termos de impacto clínico, para os participantes que no início do estudo apresentavam sintomas depressivos moderados (clinicamente significativa e associada à deficiência, mas que não atendem aos critérios completos para o diagnóstico principal de transtorno depressivo), os pacientes que receberam CALM tiveram uma redução clinicamente importante na gravidade dos sintomas tanto aos três meses (52% CALM vs. 33% de cuidados habituais) e seis meses (64% CALM vs. 35% cuidados habituais).
 
CALM também ajudou a prevenir a depressão em 137 pacientes que não apresentaram sintomas depressivos no início do estudo. Aos três meses, apenas 13% dos pacientes que receberam CALM desenvolveram sintomas depressivos (com pelo menos severidade sub-limiar) versus 30% daqueles que receberam cuidados habituais.
 
Aos três e seis meses, o grupo CALM relatou maior preparação para o fim da vida, maior oportunidade de falar sobre preocupações sobre o futuro e menos medo, além de melhor capacidade de expressar e gerenciar sentimentos. Aos seis meses esses efeitos foram fortalecidos, e o grupo CALM também se sentiu mais apto para entender a experiência do câncer, lidar com as mudanças nos relacionamentos causadas pela doença, explorar formas de se comunicar com sua equipe de cuidados em saúde e com sua família, e esclarecer seus valores e crenças.
 
Os próximos passos para esta pesquisa incluem o aprimoramento da compreensão do processo terapêutico da CALM, as abordagens ideais para o treinamento de clínicos para a intervenção, o aperfeiçoamento de ferramentas de medição que melhor capturam os resultados clínicos e a efetividade da implementação em diversos contextos clínicos e regiões geográficas.
 
O estudo foi financiado pelo Canadian Institutes of Health Research.
 
Referência: Abstract LBA10001: Managing cancer and living meaningfully (CALM): A randomized controlled trial of a psychological intervention for patients with advanced cancer. - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr LBA10001) -  - Gary Rodin et. Al

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ASCO 2017