Onconews - Reconhecimento em cuidados paliativos

André Junqueira IDEA PC NET OKO médico André Filipe Junqueira dos Santos (foto), vice-presidente da Academia Nacional de Cuidados Paliativos (ANCP), é o primeiro brasileiro a receber o International Development and Education Award in Palliative Care (IDEA-PC), concedido pela Conquer Cancer Foundation como reconhecimento pelo trabalho desenvolvido em cuidados paliativos. Criado em 2011, o prêmio foi entregue durante a ASCO 2017.

Foto: © ASCO/Danny Morton 2017

A escolha levou em consideração a produção científica e o impacto do trabalho do médico na área de cuidados paliativos. “Atendemos cerca de 500 pacientes por ano em um serviço público de emergência, sendo que os pacientes de câncer correspondem a quase 60% desse número”, afirma o geriatra, coordenador do Serviço de Cuidados Paliativos da Unidade de Emergência do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (HCFMRP), da USP, e médico no Instituto Oncológico de Ribeirão Preto (InORP).

Intercâmbio

Os premiados têm a oportunidade de participar do Extended Tour Award (ETA) e conhecer outros centros de cuidados paliativos nos Estados Unidos. O médico brasileiro passou três dias conhecendo o trabalho de cuidados paliativos desenvolvido na Universidade de Stanford, Califórnia. “O que mais chamou a atenção é o cuidado com o paciente. A medicina de uma maneira geral é bem equivalente ao que praticamos no Brasil. Claro que o acesso aos recursos às vezes é diferente, mas o que me chamou muito a atenção foi realmente o cuidado”, diz.

Segundo o especialista, em Stanford os cuidados paliativos estão cada vez mais sendo incorporados ao cuidado integral com o paciente, da atenção à abordagem inicial do paciente, passando pelo controle dos sintomas, até a assistência ao luto das famílias daqueles que vão à óbito. “A equipe de Cuidados Paliativos, por exemplo, envia um cartão de condolências para as famílias, procurando oferecer uma assistência ao luto. O trabalho não termina com a morte do paciente. Isso realmente me chamou a atenção. São coisas simples de implementar no Brasil e que não necessitam de um grande investimento”, afirma.

Em 2017, a ASCO atualizou suas diretrizes de cuidados paliativos1 (aqui), recomendando que pacientes com câncer metastático recebam cuidados paliativos em até 8 semanas a partir do diagnóstico, além de intervenções para controle de sintomas em qualquer cenário da doença.

No encontro de Chicago, vários estudos abordaram a questão dos cuidados paliativos e qualidade de vida do paciente. Apresentado em Sessão Plenária, um estudo clínico randomizado2 (LBA2) avaliou a ferramenta Symptom Tracking and Reporting (STAR), uma plataforma online para monitorar os sintomas de pacientes com câncer metastático, e mostrou que a gestão de sintomas aumentou a sobrevida global em 5,2 meses. “É o reconhecimento do valor que o cuidado paliativo agrega ao tratamento. Se fosse uma nova droga, valeria alguns milhões de dólares”, diz.

Cenário nacional

Desenvolvido pela Worldwide Palliative Care Alliance (WPCA), da Organização Mundial da Saúde, o WHO Global Atlas of Palliative Care at the End of Life3 (aqui www.thewpca.org) atribui uma classificação para os países em relação ao desenvolvimento dos cuidados paliativos. A nota 1 compreende países sem qualquer atendimento paliativo, enquanto nota 4b indica países com alto nível de integração e oferta de serviços. O Brasil aparece na posição 3a, reservada a países com atendimentos isolados, de alcance irregular, com número insuficiente de serviços para o tamanho da população. “Nós temos ilhas de excelência. A oncologia brasileira segue parâmetros internacionais, mas em relação aos cuidados paliativos ainda estamos aquém do que é praticado em muitos países” comenta.

O especialista acredita que para melhorar a atenção ao paciente é preciso investir na formação de profissionais de saúde, promover o gerenciamento e capacitação dos hospitais e disseminar informação. “Esse tripé é fundamental. É preciso trabalhar lá no começo, na graduação, para fomentar a discussão e estabelecer uma matriz de treinamento. Acho que está havendo uma mudança, a partir de iniciativas individuais, que lentamente caminha para o coletivo. Me formei há 7 anos, e fui ter contato com cuidados paliativos no final da minha residência. Hoje, muitos alunos de graduação já têm acesso à especialidade. Mas não adianta ter profissional capacitado e não ter onde atuar. Além disso, também é preciso esclarecer que cuidado paliativo não é cuidado de fim de vida. É muito mais que isso”, diz.

Referências:

1 - Integration of Palliative Care Into Standard Oncology Care: American Society of Clinical Oncology Clinical Practice Guideline Update - DOI: 10.1200/JCO.2016.70.1474 Journal of Clinical Oncology 35, no. 1 (January 2017) 96-112.

2 - Abstract LBA2: Overall survival results of a randomized trial assessing patient-reported outcomes for symptom monitoring during routine cancer treatment. - Ethan M. Basch et al - Citation: J Clin Oncol 35, 2017 (suppl; abstr LBA2)

3 - WHO Global Atlas on Palliative Care At the End of Life

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